Obama avisa que redução do défice não é um plano económico

O Presidente americano dedicou grande parte do discurso ao tema da economia, mas o momento mais emocional da noite foi quando defendeu restrições no uso de armas de fogo.

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O Presidente americano defendeu o reforço do investimento público em áreas como educação, infra-estruturas, investigação e inovação científica e energias alternativas numa altura em que a redução da dívida e do défice é uma meta nacional e a Casa Branca e a oposição republicana no Congresso têm visões diametralmente opostas sobre como atingir esses objectivos.

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O Presidente americano defendeu o reforço do investimento público em áreas como educação, infra-estruturas, investigação e inovação científica e energias alternativas numa altura em que a redução da dívida e do défice é uma meta nacional e a Casa Branca e a oposição republicana no Congresso têm visões diametralmente opostas sobre como atingir esses objectivos.

Os republicanos recusam qualquer aumento da carga fiscal e defendem cortes substanciais na despesa pública, incluindo em educação e programas sociais populares como a Segurança Social ou o Medicare (programa de saúde para idosos subsidiado pelo Estado).

Mas no primeiro discurso no Congresso desde a reeleição em Novembro de 2012, Obama prometeu proteger esses programas sociais (“o Governo deve cumprir as promessas que já foram feitas”, como “a garantia de uma reforma segura” para os cidadãos), como já fizera no discurso de tomada de posse, há três semanas, e insistiu que em vez de cortar na educação e no Medicare, o Governo pode obter mais receitas através de uma reforma fiscal que elimine benefícios e isenções fiscais para milionários.

“A nossa tarefa inacabada é garantir que este Governo funciona para muitos, e não apenas para alguns”, disse no discurso, que durou uma hora.

A retórica não foi propriamente uma novidade: no ano passado, Obama centrou boa parte da campanha de reeleição na promessa de criar mais emprego, no valor do investimento público e no conceito de justeza económica e igualdade de oportunidades. Mas depois da derrota dos republicanos nas eleições presidenciais, o homem que discursou na terça-feira está confiante de que tem a opinião pública do seu lado numa altura crucial. Casa Branca e Congresso têm de chegar a um acordo sobre a redução do défice até ao final deste mês, caso contrário o orçamento do Governo sofrerá cortes automáticos drásticos em todas as áreas, da defesa à educação.

“A redução do défice só por si não é um plano económico”, disse Obama, que defendeu o aumento do salário mínimo nacional para nove dólares por hora, em vez dos actuais sete dólares e meio. “Na nação mais rica à face da terra, nenhum trabalhador a tempo inteiro deveria viver na pobreza”, declarou, notando que um trabalhador a tempo inteiro com o salário mínimo ganha 14.500 dólares por ano (ou 10.780 euros).

Um momento emocional
A verdade é que um discurso como o que fez agora teria sido impossível há um ano. Tal como era esperado numa comunicação que foi também uma exposição das prioridades do segundo mandato, Obama defendeu a reforma do sistema de imigração e maiores limitações à circulação e posse de armas de fogo. Esta última proposta legislativa teria sido inimaginável antes do tiroteio na escola primária de Newtown, no Connecticut, que matou 20 crianças pouco antes do Natal.

Apesar de ter dedicado boa parte do discurso ao tema da economia, o momento mais emocional da noite foi quando Obama se referiu às mortes causadas por armas de fogo nos Estados Unidos – desde Newtown, mais de mil pessoas morreram a tiro – e disse que o Congresso tinha obrigação de votar no que caracterizou de “reformas baseadas no senso comum”: a concretização de um “background check” (verificação de antecedentes criminais) sempre que alguém compra uma arma e a eliminação de fusis de tipo militar e carregadores de munições de alta capacidade.

"Cada uma destas propostas merece um voto no Congresso”, disse Obama, sob uma forte ovação. E continuou, mencionando os nomes das vítimas ou familiares de vítimas de armas de fogo que se encontravam nas galerias a convite da Casa Branca ou de congressistas democratas, alguns dos quais começaram a chorar.

Como os pais de uma jovem de 15 anos que morreu baleada em Chicago no final de Janeiro. “Eles merecem um voto.”

Como a congressista democrata do Arizona Gabrielle Giffords, que há dois anos foi vítima de um tiroteio. “Gabby Giffords merece um voto”, prosseguiu Obama, enquanto os aplausos continuavam.

“As famílias de Newtown merecem um voto. As famílias de Aurora merecem um voto. As famílias de Oak Creek, e Tucson, e Blacksburg, e as incontáveis outras comunidades devastadas pela violência das armas merecem um simples voto.”

A reforma da imigração, que incluiria um plano de legalização para os 11 milhões de indocumentados que vivem nos Estados Unidos, e um maior controlo sobre a posse de armas, continuam a dividir a comunidade política em Washington. Mas a percepção neste momento é que existe um consenso nos dois partidos, mesmo frágil, em relação à primeira proposta, ao passo que o debate sobre o controlo de armas divide os próprios democratas.