Amarante recria tradição perdida há meio século
"Corrida dos compadres" utilizava bonecos, nas formas de homem e de mulher, que representavam um casal desavindo que aproveitava o Carnaval para esgrimir argumentos ou reconciliar-se.
"Estes compadres serviam para a reconciliação de namorados", explicou à Lusa António Pereira, apontando para dois bonecos de palha vestidos com roupas coloridas de papel. Os bonecos, nas formas de homem e de mulher, representavam, simbolicamente, um casal desavindo que aproveitava o Carnaval para esgrimir argumentos ou reconciliar-se.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Estes compadres serviam para a reconciliação de namorados", explicou à Lusa António Pereira, apontando para dois bonecos de palha vestidos com roupas coloridas de papel. Os bonecos, nas formas de homem e de mulher, representavam, simbolicamente, um casal desavindo que aproveitava o Carnaval para esgrimir argumentos ou reconciliar-se.
"Para tentarem reconciliar-se ou rebaixar o namorado, as raparigas exibiam o boneco e havia uma perseguição para esfarrapar o compadre, como forma de protesto", contou António Pereira, que recordava, sorrindo, o que observava quando era criança.
E prosseguiu: "Os rapazes eram mais atrevidos, subiam às árvores e esperavam que algumas das raparigas subissem, para [outros rapazes] lhes espreitarem as pernas".
O sexagenário de Amarante, homem contador de histórias e habituado a estudar as tradições da terra, garante que os compadres tiveram "uma grande relevância no concelho", apesar de se desconhecer a origem daquele costume. Por altura do Carnaval, muitos casais preparavam os bonecos, feitos com palha de centeio. As caras dos compadres eram cobertas com pano branco e os corpos eram vestidos com roupas feitas em papel. "Aquilo era muito divertido e muita gente participava, novos e velhos", comentou. Também os mais pequenos tentavam imitar os mais adultos, preparando miniaturas de compadres, feitas com lã, que davam a beijar às pessoas de quem gostavam.
Diz-se, por Amarante, que muitos casamentos, hoje maduros, surgiram com as brincadeiras carnavalescas da "macaca". É essa tradição que aquele grupo de pessoas, apoiado pela junta de freguesia da cidade, se propõe revitalizar.
António Pereira, alfaiate reformado, pôs mão à obra, recorrendo à sua memória e à de contemporâneos, para "ressuscitar os bonecos e mostrar aos mais novos um bocado da Amarante dos seus pais e avós". Nos últimos dias, com a ajuda de algumas mulheres, foram preparados três casais de compadres e dezenas de miniaturas em lã.
Na terça-feira de Carnaval, promete o "senhor António", mulheres e homens da cidade percorrerão as ruas do centro histórico, exibindo os seus compadres numa batalha que os autores da iniciativa prevêem ser "muito divertida". Está garantida a participação de dezenas de atletas da Associação Desportiva de Amarante. Os bonecos vão ser leiloados, anunciando-se que as receitas revertam a favor da Associação Desportiva de Amarante, clube que tem em António Pereira um dos seus grandes dinamizadores.