Eles vão envelhecer juntos... ou talvez não
Julie Delpy e Ethan Hawke regressam às personagens de Antes do Anoitecer em Before Midnight, de Richard Linklater
Porque, sim, Céline e Jesse – os mesmos que se seduziram em Viena em Antes do Amanhecer e que se reencontraram em Paris em Antes do Anoitecer – ficaram juntos e são agora um casal que enfrenta os mesmos problemas de qualquer casal. São esses problemas que estão no centro de Before Midnight, o terceiro episódio da trilogia do americano Richard Linklater, apresentado hoje fora de concurso no festival de Berlim.
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Porque, sim, Céline e Jesse – os mesmos que se seduziram em Viena em Antes do Amanhecer e que se reencontraram em Paris em Antes do Anoitecer – ficaram juntos e são agora um casal que enfrenta os mesmos problemas de qualquer casal. São esses problemas que estão no centro de Before Midnight, o terceiro episódio da trilogia do americano Richard Linklater, apresentado hoje fora de concurso no festival de Berlim.
Céline quer mudar de emprego, Jesse pergunta-se se deveria voltar para os EUA para junto do filho do primeiro casamento, e a partir daí as coisas descambam para uma longa e palavrosa discussão conjugal, filmada por Linklater em longuíssimos planos, alguns deles em steadycam, com o casal a passear pelas paisagens gregas.
E são esses problemas que fazem deste talvez o melhor dos três filmes e certamente igual do primeiro filme: acabado o conto de fadas, é preciso olhar para a vida como ela é. “Não é fácil,” como diz a certa altura Hawke, “mas é verdadeira.”
Na conferência de imprensa – sobre-concorrida como é hábito nestas ocasiões – Ethan Hawke diz que esse tom acabou por vir naturalmente da evolução dos três filmes: “Quando se é jovem, tem-se tempo para andar a passear de comboio... mas à medida que ficamos mais velhos torna-se difícil não sermos definidos pelos nossos empregos.” E Before Midnight fala precisamente do momento em que Céline e Jesse chegam à encruzilhada seguinte do seu percurso: e agora, que temos uma família, uma carreira, uma vida em comum, como é que fugimos às armadilhas? Ou será sequer que é possível fugir às armadilhas?
Tudo se passa durante umas férias em família na Grécia, e embora ninguém o tenha perguntado, acaba por haver qualquer coisa de curioso em instalar esta história de crise conjugal num país que se tornou no símbolo da crise, mesmo que o projecto fosse anterior à decisão de rodar na Grécia – facilitada pela amizade de Linklater com Athina Rachel Tsangari, a realizadora de Attenberg, que estudou cinema na Austin natal do realizador e que faz aqui uma perninha como actriz.
Mas Before Midnight não tem nada de oportunista nem de calculado: percebe-se que o filme surge verdadeiramente da curiosidade de reencontrar estas personagens, de tomar o pulso ao modo como uma relação evolui. Já não é um projecto apenas de Linklater mas sim um verdadeiro filme a três (o argumento é assinado pelo cineasta com os seus actores); talvez aqui e ali um bocadinho demasiado próximo das imagens de marca de Delpy e Hawke.
É inevitável, porque, como ela própria diz, há uma “semente de verdade” nestas personagens. “Não somos nós que ali estamos, mas quando revi Antes do Anoitecer fiquei surpreendida pela quantidade de coisas pessoais, minhas, que transparecem no filme. Como se a árvore da ficção crescesse a partir de uma semente de realidade.”
Na qual muita gente se vai rever.