RTP: um novo fôlego ou o último suspiro do guerreiro?

A nova grelha demonstra vontade de lutar, utilizando matéria-prima portuguesa (e ainda bem!) e apostando um pouco em todas as frentes do entretenimento

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Daniel Rocha/arquivo

Nos últimos tempos, a RTP viveu um clima de terror psicológico com ameaças de privatização e modelos alternativos, sempre baseados em “emagrecer” a fatura do Estado (não é o social, é o outro, o verdadeiro).

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Nos últimos tempos, a RTP viveu um clima de terror psicológico com ameaças de privatização e modelos alternativos, sempre baseados em “emagrecer” a fatura do Estado (não é o social, é o outro, o verdadeiro).

Esta aproximação do abismo, aliada ao óbvio receio de despedimentos originou um trabalho de pesquisa afincado relativamente ao destino a seguir pela estação ainda pública.

Não sei quanto tempo esta nova grelha “pop smart” esteve a ser preparada nem em que moldes, mas gosto de acreditar que se iniciou quando as direções começaram a perceber que era necessário mostrar trabalho senão iriam ser reconduzidos para um gabinete qualquer numa filial qualquer de um grupo económico qualquer. Ou pior.

A nova grelha de programação é, de facto, ambiciosa e proporciona uma nova experiência para os portugueses: carregar na tecla 1 do comando da tv (ou box). O primeiro exemplo da ambição referida é “Odisseia”.

Sem dúvida, o programa mais mediático. Não só porque junta atores com créditos firmados (uns mais do que outros, claro) com uma das duplas mais originais do cinema atual, Guedes & Serra, mas também porque tenta apelar a um público mais “culto” e tentar intrometer-se entre os realities e os programas com figuras públicas. Não acredito que seja uma batalha sequer, já que o público-alvo é completamente distinto. Apesar de alguns "gags" escatológicos.

Outro exemplo interessante é “Não me sai da cabeça”. Depois do excelente documentário “Estranha forma de vida”, que é uma base de dados fantástica para o conhecimento e evolução da música portuguesa nos mais variados géneros musicais, surge Sílvia Alberto a utilizar músicas emblemáticas para explicar o fenómeno pop e viajar ao passado. Um documentário original que consegue cativar os espetadores.

Entre a panóplia de novidades, a destacar também o “Quem é que tu pensas que és?”, uma espécie de “Grandes Antepassados dos Famosos”, que será interessante para os próprios famosos e para quem gosta de tentar viver a vida deles; noutra área, o novo cenário do Telejornal, que agora tem 360º.

Não poderei terminar sem manifestar o apreço pelo regresso de José Pedro Gomes e Victor Espadinha ao formato "sitcom", mantendo aquele humor de domingo ou, “Depois do Adeus”, que é um ótimo documento histórico, além de um bom exemplo da qualidade da ficção portuguesa.

Em conclusão, a nova grelha demonstra vontade de lutar, utilizando matéria-prima portuguesa (e ainda bem!) e apostando um pouco em todas as frentes do entretenimento. Talvez seja uma tarefa inglória se o objetivo for ganhar audiências. Ainda é a GFK a empresa responsável pelas medições?