“Seis Sessões” obriga-nos a ver o que não queremos e, depois, a ficarmos gratos por isso
Este é o segredo do filme “Seis Sessões”: Mark O’Brien e Cheryl estão como que prisioneiros no quarto, confinados à natureza (simplista para tantos) do acto sexual
“Seis Sessões” é a adaptação da inacreditável história de Mark O’Brein (John Hawkes), um homem de 38 anos que sofre de poliomielite, um vírus que afecta o funcionamento dos músculos e o impede de se mexer. Na ânsia de ter a sua primeira experiência sexual, O’Brien é encorajado a contratar uma terapeuta sexual. A chamada “substituta sexual” ajudá-lo-ia a “ouvir os sinais do seu corpo”, como ela própria lhe explica.
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“Seis Sessões” é a adaptação da inacreditável história de Mark O’Brein (John Hawkes), um homem de 38 anos que sofre de poliomielite, um vírus que afecta o funcionamento dos músculos e o impede de se mexer. Na ânsia de ter a sua primeira experiência sexual, O’Brien é encorajado a contratar uma terapeuta sexual. A chamada “substituta sexual” ajudá-lo-ia a “ouvir os sinais do seu corpo”, como ela própria lhe explica.
"Adoro que [este filme] pegue em duas coisas de que tendencialmente desviamos o olhar: sexo e deficiência", disse William H. Macy numa recente entrevista.
“Seis Sessões” é, exactamente, e sobretudo, sobre estes dois temas e chama-nos a atenção para os pormenores de que, normalmente, queremos desviar o olhar. As coisas em que não pensamos e não queremos (nem precisamos) saber porque, na realidade, não temos nada a ver com elas.
Este filme coloca em cima da mesa nudez, sexo, deficiência, compaixão e caridade. Faz-nos engolir os nossos pensamentos quando eles, por instinto, são: “Isto é estranho” ou “isto não está certo”. Durante todo o filme, Hawkes está deitado na cama ou numa maca e apenas pode mexer a cabeça num ângulo de 90 graus. É impossível não levar o espectador a pensar como é a vida vivida assim, dependente de todos para os mais pequenos e básicos actos – como tomar banho. É impossível não sentir pena perante o simples desejo do protagonista de poder fazer sexo, pelo menos, uma vez na vida.
Mark O’Brien tem um sentido de humor mordaz, que dá um toque de leveza ao filme. Não chora nem se revolta, não grita com ninguém, não fica furioso. A sua revolta, a sua tristeza e fúria são internas e expressam-se simplesmente naqueles encontros com a substituta sexual.
Este é o segredo do filme “Seis Sessões”: Mark O’Brien e Cheryl estão como que prisioneiros no quarto, confinados à natureza (simplista para tantos) do acto sexual e que desenrola tantos outros desesperos e ânsias que nada têm a ver com o sexo.
O sexo é o veículo principal para a exploração da compaixão humana nesta história: o sexo passa a ser terapêutico, a nudez deixa de ser erótica e passa a ser um protocolo, a necessidade deixa de ser romântica e passa a ser por defeito. Em todos os momentos, o espectador sente a necessidade de se readaptar à situação do protagonista; sente a necessidade de reajustar o que é “aceitável” e o que é “estranho”.
Stephen Holden, do "The New York Times", nomeia Helen Hunt e John Hawkes “o casal do ano” em “Seis Sessões”. Seria um prémio adequado. Contrastando com o par modelo Bradley Cooper e Jennifer Lawrence em “Guia para um Final Feliz”, que também representam deficiência e atracção à sua maneira, Helen Hunt e John Hawkes aproximam-se vertiginosamente mais da excelência.