Banco de Portugal quer novos investidores estratégicos nos bancos portugueses

Carlos Costa disse que sem a recapitalização dos bancos o crédito à economia teria caído mais do que o registado.

Foto
"Podemos confiar no Banco de Portugal quando este se deixa enganar pelos administradores do BCP e do BPN?" Nelson Garrido

"Espero que a normalização do mercado acelere o interesse dos investidores e seria bom que alguns investidores estratégicos aparecessem no mercado português", afirmou Carlos Costa, no Parlamento.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

"Espero que a normalização do mercado acelere o interesse dos investidores e seria bom que alguns investidores estratégicos aparecessem no mercado português", afirmou Carlos Costa, no Parlamento.

O responsável máximo pelo supervisor bancário está a ser ouvido na Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças, numa sessão que marca o arranque de várias audições sobre as recapitalizações que foram feitas nos bancos portugueses com dinheiro público.

No memorando de entendimento assinado entre Portugal e a troika (composta pelo Fundo Monetário Europeu, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) foram destinados 12 mil milhões de euros para o sector financeiro.

Desta linha, o Estado concedeu um empréstimo obrigacionista de 3000 milhões de euros ao BCP (através da subscrição das chamadas CoCo bonds) e de 1500 milhões de euros ao BPI. No caso do banco liderado por Fernando Ulrich, este já reembolsou o Estado em 300 milhões de euros e anunciou, na quarta-feira, a intenção de devolver mais 200 milhões de euros.

Já este ano, o Estado entrou com 1100 milhões de euros no Banif, mas neste caso, além das obrigações de capital contingente, subscreveu acções, ficando como accionista maioritário da instituição.

Assim, no total, ao abrigo da linha da troika, foram gastos 5600 milhões de euros no sistema financeiro português.

Ainda em 2012, o Estado investiu ainda 1650 milhões de euros na recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), mas neste caso enquanto seu único accionista, ou seja, este capital não saiu da linha disponibilizada pelos credores externos.

Também o BES e o Montepio conseguiram reforçar capital recorrendo aos seus accionistas.

Carlos Costa disse que sem a recapitalização dos bancos o crédito à economia teria caído mais do que o registado e estimou essa queda em 40%.

"A sequência de não recapitalizar seria reduzir o financiamento da economia. Há obviamente um interesse público associado à recapitalização, tratando-se de bancos solventes e que têm papel relevante no financiamento da economia", afirmou hoje o governador do Banco de Portugal, na Assembleia da República, em Lisboa.

Carlos Costa foi mesmo mais longe e disse que, sem a recapitalização e com os bancos a "adaptar o crédito aos seus capitais", então "a redução do crédito seria da ordem dos 40%".

Isto, adiantou Carlos Costa, teria "precipitado o problema do lado dos [bens] transacionáveis", que o governador considera importantes para a recuperação da economia.

O responsável sublinhou mesmo que, em 2012, houve uma reorientação do crédito pelos bancos e um "aumento de 5,4%" dos empréstimos às empresas exportadoras.

O responsável disse ainda que a recapitalização dos bancos com dinheiro público tem como objectivo "manter os accionistas interessados" na instituição, ao mesmo tempo que o interesse dos contribuintes "é protegido".

Depois de ser ouvido o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ainda hoje é ouvido o presidente do BCP, Nuno Amado.

Na próxima semana, é a vez dos presidentes dos bancos BPI, Banif e Caixa Geral de Depósitos. Na última audição sobre este tema, a 15 de Fevereiro (sexta-feira), será ouvido o ministro das Finanças, Vítor Gaspar.