Oposição síria diz que "laxismo internacional" deixa Assad de mãos livres
Um dia depois da descoberta de dezenas de corpos em Alepo, o enviado especial da ONU avisou que o país “está a desmoronar-se à vista de todos”. Conferência de doadores reúne mil milhões de dólares para ajuda à população.
Os corpos – mais de cem segundo activistas locais, 80 de acordo com a Coligação Nacional Síria, que agrega as forças da oposição – foram descobertos num canal que atravessa Alepo, cidade que foi o grande pólo industrial da Síria e é hoje o principal campo de batalha entre os homens de Assad e a rebelião armada. É o mais recente de muitos massacres cometidos nos últimos meses, mas desta vez o mundo pode ver as imagens dos corpos, enlameados e inchados pela água. Muitos de mãos atadas. Quase todos com feridas de bala na cabeça, a provar a execução.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os corpos – mais de cem segundo activistas locais, 80 de acordo com a Coligação Nacional Síria, que agrega as forças da oposição – foram descobertos num canal que atravessa Alepo, cidade que foi o grande pólo industrial da Síria e é hoje o principal campo de batalha entre os homens de Assad e a rebelião armada. É o mais recente de muitos massacres cometidos nos últimos meses, mas desta vez o mundo pode ver as imagens dos corpos, enlameados e inchados pela água. Muitos de mãos atadas. Quase todos com feridas de bala na cabeça, a provar a execução.
Em Damasco, o regime culpou a Frente al-Nusra, movimento islamista suspeito de ligações à Al-Qaeda, lembrando que os corpos apareceram numa zona controlada pelos rebeldes. A oposição acusa as forças leais a Assad pelo massacre – alguns dos mortos, dizem, tinham sido presos dias antes em checkpoints do Exército.
“O laxismo internacional face às violações dos direitos humanos na Síria encoraja os assassinos a continuarem a cometer crimes e a extrema complacência da maior parte dos países é uma luz verde dada aos autores do genocídio”, afirma a Coligação, num comunicado em que pede ao Conselho de Segurança que ordene um inquérito internacional. "Para que Assad e todos os que contribuíram para este massacre respondam por crimes contra a humanidade.”
“
Repudiando os “horrores intermináveis” de que a Síria tem sido palco, o secretário-geral da ONU abriu uma conferência de doadores no Kuwait com um apelo “a todas as partes e, em particular, ao Governo sírio”, para que se comprometam com o fim da violência. “Em nome da humanidade, parem com as mortes”, pediu Ban Ki-moon, ao mesmo tempo que admitia que não há um fim à vista para a catástrofe em curso.
Em Nova Iorque, Brahimi dirigiu os apelos para os países com responsabilidade na região. “Só a comunidade internacional pode ajudar” a evitar o colapso do país – um cenário com consequências a que “nenhuma das nações vizinhas ficará imune”, avisou.
O enviado especial da ONU relatou ao Conselho de Segurança a total ausência de resultados dos contactos que fez nas últimas semanas, numa comunicação que um dos diplomatas presentes descreveu à Reuters como a mais sombria desde que foi nomeado para o cargo, no ano passado. “Disse ao Conselho que me sinto envergonhado por estar sempre a repetir a mesma coisa” e a não obter resultados, disse Brahimi, sublinhando que a “Síria está a ser destruída, pedaço a pedaço”, sem que as potências internacionais se entendam sobre o que fazer para resolver o conflito.
E tão urgente como parar a violência é prestar ajuda a milhões de sírios. A Cruz Vermelha Internacional alerta que a situação atingiu “níveis sem precedentes de sofrimento”, com o Inverno a agravar as condições de vida, quer de quem está preso pelos combates quer de quem foi obrigado a fugir do país. “Assistimos a uma tragédia humana que se desenrola à nossa vista”, acrescentou Valerie Amos, responsável pela assistência humanitária da ONU, num apelo à solidariedade internacional.
As Nações Unidas dizem precisar de 1500 milhões de dólares para levar ajuda a quatro milhões de sírios que se encontram em situação desesperada e aos 700 mil que estão refugiados nos países vizinhos. Antes da conferência do Kuwait, tinha conseguido angariar apenas 18% desse montante, mas nesta quarta-feira as promessas de ajuda superavam já os mil milhões, dos quais 900 mil oriundos dos países do Golfo.