Católica encerra cinco cursos de engenharia por razões financeiras

Universidade procura solução para os 100 alunos afectados, dos cursos de engenharia civil, biomédica, mecânica, informática e industrial.

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A decisão afecta cerca de 100 alunos Pedro Cunha

A decisão da Universidade Católica foi anunciada na quinta-feira e afecta as licenciaturas em engenharia civil, biomédica, mecânica, informática e industrial.

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A decisão da Universidade Católica foi anunciada na quinta-feira e afecta as licenciaturas em engenharia civil, biomédica, mecânica, informática e industrial.

Num comunicado interno a que o PÚBLICO teve acesso, a instituição fala em “descontinuar os cursos da Faculdade de Engenharia” e garante que tomará medidas que “acautelem” o percurso académico dos cerca de 100 alunos inscritos nestas licenciaturas.

“Na sequência dessa deliberação, a Universidade Católica Portuguesa procura agora soluções que acautelem devidamente o percurso académico dos estudantes, bem como a situação dos docentes e funcionários, após análise cuidada e detalhada de cada caso”, lê-se no comunicado assinado pelo director da Faculdade de Engenharia e pela reitora da Universidade Católica, que não avança razões concretas para a decisão.

Ao PÚBLICO, o director da Faculdade de Engenharia, Manuel Barata Marques, confirmou que “razões de ordem financeira” estiveram na origem da decisão, já que o campus de Sintra, onde eram leccionados estes cursos, não teve o desenvolvimento previsto pelo que a própria interacção com outras áreas do conhecimento não estava já garantida.


Barata Marques adiantou que, além da Universidade Técnica de Lisboa, também a Universidade Nova de Lisboa já manifestou a sua disponibilidade para acolher estes alunos e que logo que possível colocará o Ministério da Educação e Ciência e a Ordem dos Engenheiros a par da situação, sendo que “a prioridade foram os estudantes”. “Os alunos que tiverem condições de concluir os seus estudos neste ano vão poder fazê-lo ainda na Universidade Católica, mas os restantes serão integrados tão breve quanto possível”, acrescentou.

Questionado sobre a decisão estar a ser tomada a meio do ano lectivo, o director justificou que existindo este desfecho não fazia sentido prolongar a estadia dos alunos na Católica. Mas garantiu que vão “dar todo o apoio possível, que nenhum aluno está abandonado” e que os estudantes vão continuar a ser acompanhados pelos docentes desta instituição e a poderem utilizar os seus recursos em trabalhos durante a transição. Assuntos relacionados com propinas também serão resolvidos.

Já o Ministério da Educação e Ciência, através do gabinete de comunicação, fez saber que "não teve ainda conhecimento formal deste assunto".

A universidade reúne-se no final da tarde desta sexta-feira com os estudantes para explicar os motivos desta decisão e para explicar os procedimentos futuros.

Universidade Técnica disponível
Entretanto, o reitor da Universidade Técnica de Lisboa garantiu à Lusa que a instituição está disponível para receber estes alunos. António Cruz Serra disse que estão a decorrer negociações entre as duas instituições e que “os alunos não ficarão sem estudar”. “Nós temos disponibilidade total para ajudar a resolver o problema, cumprindo sempre a lei”, disse o reitor, lembrando que “só há transferências por concurso”. Ou seja, “se houver um concurso de transferências, os alunos da Católica estarão em igualdade de circunstâncias com todos os outros”.

E este é precisamente um dos dilemas. Segundo disse também à Lusa a presidente da associação de estudantes de Engenharia da Universidade Católica, os estudantes estão em “pânico” e “desiludidos”. “Disseram-nos que os alunos que estão no último ano ainda poderão terminar a licenciatura aqui na Católica. Assim como os alunos de mestrado. Já todos os outros, que ainda não estão na iminência de terminar serão transferidos já no próximo semestre”, contou Sónia Vaz.

Repetição dos problemas de arquitectura?
Agora, temem uma repetição do que aconteceu com o curso de arquitectura. “Há cerca de três anos acabaram com o curso e os alunos foram integrados no (Instituto Superior) Técnico mas, no ano seguinte, tiveram de se candidatar como alunos externos e não conseguiram ficar no Técnico. Ficaram abandonados e tiveram de se candidatar a outras faculdades”, afirmou a estudante.

A decisão da Católica apanhou o bastonário da Ordem dos Engenheiros “desprevenido”. Ao PÚBLICO, Carlos Matias Ramos explicou que já conhecia a decisão da universidade de descontinuar o curso de engenharia, mas nada mais. O bastonário lamenta a situação e garante que os alunos que viram as suas expectativas defraudadas “têm o direito a ser inseridos em novas escolas em condições análogas”.

Porém, Carlos Matias Ramos considera que o caso é o corolário de várias situações que tem vindo a denunciar desde que assumiu o cargo. “Quando cheguei havia mais de 600 cursos com a designação engenharia. Há uma oferta descontrolada que cria desequilíbrios entre a procura e a oferta”, sublinha o bastonário, insistindo na importância de “assegurar a qualidade dos cursos ministrados” e de se fazer uma “discussão séria” já que o “sobredimensionamento tem reflexo no desemprego” num sector “estratégico” para o desenvolvimento económico.
 

Notícia actualizada às 19h19 Acrescenta reacção do director da Faculdade de Engenharia,