Portugal tem hoje o teste do "bom aluno" nos mercados
Portugal vai tentar provar nesta quarta-feira que está em condições de caminhar pelo seu próprio pé nos mercados com a primeira emissão de dívida a longo prazo desde 2011.
Os analistas esperam que Portugal não ultrapasse a taxa de juro que é exigida no mercado secundário, onde a dívida é trocada entre investidores em segunda mão com referência a uma taxa de juro implícita. Os juros das Obrigações do Tesouro a cinco anos no mercado secundário rondam actualmente os 4,8%, taxa pela qual os investidores devem alinhar para o leilão desta quarta-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os analistas esperam que Portugal não ultrapasse a taxa de juro que é exigida no mercado secundário, onde a dívida é trocada entre investidores em segunda mão com referência a uma taxa de juro implícita. Os juros das Obrigações do Tesouro a cinco anos no mercado secundário rondam actualmente os 4,8%, taxa pela qual os investidores devem alinhar para o leilão desta quarta-feira.
Para ajudar o Tesouro português na tarefa de regressar temporariamente à emissão de dívida a longo prazo nos mercados primários estarão os bancos internacionais Barclays, Deutsche Bank, Morgan Stanley e o português BES. Cabe a estes bancos assegurarem o interesse de investidores que cubram os objectivos mínimos de venda de dívida, num molde de ida aos mercados chamado "leilão sindicado".
Desde que Mario Draghi anunciou, em Setembro, o apelidado Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) que os mercados têm aprofundado a sua trégua ante a escalada de juros na dívida dos países do Sul e da periferia. Desde então, os juros da dívida soberana caíram em toda a linha para Espanha, Portugal, Itália e Irlanda.
Espanha e Itália, os únicos destes países com acesso normal ao mercado a longo prazo, têm aproveitado o período de acalmia para emitirem grandes quantidades de dívida a juros que se aproximam dos valores pré-crise do euro.
É neste contexto que o Governo tem planeado há semanas o regresso aos mercados primários. Com uma caminhada bem-sucedida, Portugal conseguirá provar aos investidores que está em condições de sair em boas condições do resgate internacional, com fim marcado para 2014. Estará também a enviar um sinal ao Banco Central Europeu (BCE), na esperança de cumprir as exigências para a entrada de Portugal no MEE. Segundo afirmou Mario Draghi, o programa de compra de dívida ilimitada só estará aberto aos países capazes de realizar emissões a longo prazo, algo que o Estado espera provar nesta quarta-feira.
Juros baixos não estão assegurados
Existem diferenças consideráveis entre a emissão de dívida no mercado primário e a tendência para a troca de dívida em segunda mão do mercado secundário, o que levanta dúvidas em relação às taxas de juro que o leilão sindicado pode, de facto, atingir.
Na manhã desta quarta-feira, os juros implícitos da dívida no mercado secundário a cinco anos encontravam-se ainda na casa dos 4,8%. Mas o facto de as taxas estarem a cair no mercado secundário não é, por si só, uma garantia do sucesso nas emissões. É que as taxas do mercado secundário podem não significar muito, tendo em conta o nível muito reduzido de transacções que se tem vindo a verificar no último ano.
Em todo o caso, o molde de leilão sindicado pode garantir a manutenção das taxas em baixa. Mas quando Portugal tiver que realizar emissões de maior dimensão, encontrar um volume suficiente de procura pode revelar-se difícil.
Mas, mesmo que os juros se mantenham na casa dos 4,8%, o Tesouro português vai pagar mais do que o que aconteceria se não fizesse o leilão de dívida desta quarta-feira. A troika assegura empréstimos a uma taxa média de 3,4% e com prazos mais longos do que cinco anos.
A Irlanda já passou no teste
O regresso parcial e antecipado aos mercados que Portugal tenciona cumprir nesta quarta-feira foi já ensaiado pelo melhor "aluno" na turma dos países sob resgate, a Irlanda. Em Julho de 2012, também através de um processo de leilão sindicado, a Irlanda colocou no mercado cerca de 4190 milhões de euros a cinco anos, com uns juros que rondaram os 5,9%.
Este primeiro ensaio foi encarado pelo Governo irlandês e pelos líderes europeus como um sucesso na antecipação ao regresso da Irlanda aos mercados, agendado também para 2014.
O Tesouro irlandês fez novo leilão de dívida a longo prazo no mercado primário em Janeiro de 2013, superando as expectativas dos investidores ao colocar 2500 milhões de euros a cinco anos com juros nos 3,5%. Este segundo leilão foi um reforço das Obrigações do Tesouro irlandês que haviam sido emitidas em Julho de 2012.
Notícia actualizada às 9h04.