Há um tipo de colesterol quase desconhecido, e é o pior de todos
Pela primeira vez, cientistas dinamarqueses mostraram que um terceiro tipo de colesterol, que não é nem o HDL nem o LDL, é mesmo o vilão da fita no desenvolvimento das doenças coronárias.
Já se sabia que, para além dos chamados "bom" e "mau" colesteróis – respectivamente, o colesterol HDL e o colesterol LDL –, existe um terceiro tipo, designado colesterol "feio" (em inglês, ugly). E que este terceiro tipo, que quase ninguém conhece, é o "vilão" que mais faz aumentar o risco de bloqueio das artérias – a aterosclerose, principal causa de enfarte cardíaco. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as doenças cardiovasculares matam 17 milhões de pessoas por ano no mundo.
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Já se sabia que, para além dos chamados "bom" e "mau" colesteróis – respectivamente, o colesterol HDL e o colesterol LDL –, existe um terceiro tipo, designado colesterol "feio" (em inglês, ugly). E que este terceiro tipo, que quase ninguém conhece, é o "vilão" que mais faz aumentar o risco de bloqueio das artérias – a aterosclerose, principal causa de enfarte cardíaco. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as doenças cardiovasculares matam 17 milhões de pessoas por ano no mundo.
Fazemos periodicamente uma análise de sangue para conhecer o nosso colesterol total, bem como o "bom" (HDL, de alta densidade) e o "mau" colesterol (LDL, de baixa densidade). Mas a soma destes dois tipos de colesterol não é igual ao colesterol total. É nessa discrepância que se esconde o colesterol "feio", ou "remanescente", de densidade muito mais baixa do que o colesterol mau. E, a acreditar nos resultados agora publicados, que envolveram milhares de participantes, talvez esteja na hora de a comunidade médica começar a olhar seriamente para este terceiro tipo, um autêntico vilão.
"Até aqui, as pessoas, os médicos e os cientistas têm-se focado principalmente no colesterol LDL. A maior parte dos médicos ignora o colesterol remanescente", disse ao PÚBLICO Børge Nordestgaard, da Universidade de Copenhaga, um dos principais autores do estudo.
Os cientistas realizaram um estudo junto de 73 mil participantes dinamarqueses, quase 12 mil dos quais tinham sido diagnosticados, entre 1976 e 2010, com uma cardiopatia isquémica decorrente de aterosclerose coronária. Por outro lado, cerca de 20 mil desses participantes apresentavam, devido a mutações genéticas, altos níveis do tal colesterol "feio".
"Para conseguirmos analisar a correlação entre o colesterol feio e a doença cardíaca, utilizámos amostras sanguíneas de pessoas portadoras de um defeito genético que faz com que elas tenham altos níveis [desse] colesterol durante toda a vida", explica Anette Varbo, co-autora do estudo, em comunicado da Universidade de Copenhaga. "Como esses resultados não dependem do estilo de vida das pessoas, são o mais rigoroso possível."
Uma questão de gordura
E o que os resultados mostram, pela primeira vez, é que existe uma relação causal entre os altos níveis de colesterol feio e a aterosclerose – com as pessoas com altos níveis deste tipo de colesterol a correrem um risco quase três vezes maior do que as outras de desenvolver uma cardiopatia isquémica. Mais precisamente, "um aumento do colesterol remanescente de 39 miligramas por decilitro de sangue corresponde a um aumento de 2,8 do risco causal de doença cardíaca isquémica", escrevem os autores na JACC. E, ainda por cima, isso acontece, salientam, "independentemente de os níveis de [bom] colesterol HDL serem reduzidos". Ou seja, até podemos ter níveis razoáveis de bom colesterol; se tivermos muito colesterol feio, o risco de cardiopatia isquémica será igualmente elevado. "É a primeira vez que demonstramos uma relação causal que não depende do facto de uma pessoa ter um nível baixo de HDL", salienta, Nordestgaard. "E isso é uma novidade."
Este terceiro colesterol é portanto o verdadeiro mau da fita? "Sim", responde-nos o cientista. "Mas o LDL também é mau e é esse que a maioria das pessoas tem." Mesmo assim, mais de um dinamarquês em cada cinco apresenta altos níveis de colesterol feio – e é provável que a situação seja comparável em muitos outros países ocidentais.
Há maneira de evitarmos o vilão? Evitando o excesso de peso e a obesidade. "Os altos níveis de colesterol feio resultam de altos níveis de gordura no sangue (triglicéridos)", salienta Nordestgaard. "Portanto, as pessoas com altos níveis deste colesterol devem ser aconselhadas a perder peso." Medicamentos tais como as estatinas "também poderão ajudar a diminuir os níveis". "Espero que estes novos resultados conduzam a melhores tratamentos preventivos", diz ainda.