Juiz do Supremo americano quebrou silêncio de sete anos para fazer uma piada

Clarence Thomas não faz uma pergunta a um advogado desde 2006, mas na segunda-feira interrompeu o seu famoso silêncio com uma nota humorística.

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O juiz Clarence Thomas foi nomeado em 1991 pelo então Presidente George Bush Jim Young/Reuters

Não é uma daquelas notícias que vai mudar a vida de muitas pessoas, mas o facto é que as primeiras palavras de Clarence Thomas em quase sete anos fizeram furor no Twitter e mereceram muitas outras palavras nos media norte-americanos e de outros países, com notícias, comentários, análises e até infografias em publicações como o The New York Times, o Washington Post e a Time e no site da BBC, entre muitos outros.

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Não é uma daquelas notícias que vai mudar a vida de muitas pessoas, mas o facto é que as primeiras palavras de Clarence Thomas em quase sete anos fizeram furor no Twitter e mereceram muitas outras palavras nos media norte-americanos e de outros países, com notícias, comentários, análises e até infografias em publicações como o The New York Times, o Washington Post e a Time e no site da BBC, entre muitos outros.

E o mais irónico é que ninguém percebeu exactamente o que é que o juiz Clarence Thomas quis dizer, pelo que não é certo que a sua folha de serviço tenha sido manchada por uma intervenção que possa ser interpretada como uma pergunta ou um comentário dirigido a um advogado durante a apreciação de um recurso.

O histórico momento ficou registado na transcrição da análise ao caso que opõe Jonathan Edward Boyer ao estado do Louisiana, que começou na segunda-feira. A acusação procurava refutar as alegações da defesa, que pretendia ver reconhecida a violação do direito do seu cliente a um julgamento rápido. O juiz Antonin Scalia questionava a procuradora-adjunta do estado do Louisiana, Carla Sigler, sobre as qualificações dos advogados nomeados para defender Jonathan Edward Boyer, acusado de homicídio em primeiro grau e condenado à morte:

Antonin Scalia – Ela licenciou-se em Yale, não foi?

Carla Sigler – É uma advogada impressionante.

Antonin Scalia – E outro dos advogados dele, o sr. Singer – um dos três que ele teve –, licenciou-se em Harvard, não foi?

Carla Sigler – Sim, meritíssimo.

Antonin Scalia – Chiça.

Clarence Thomas – Bem, ele não...

(Risos)

Carla Sigler – Permita-me refutar, meritíssimo.

Afinal, as primeiras palavras de Clarence Thomas no Supremo Tribunal desde 2006 parecem ter sido apenas uma piada, indicando que Jonathan Edward Boyer não teve uma defesa competente, precisamente porque fora representado por advogados licenciados em Yale e Harvard.

Clarence Thomas é conhecido pelas suas críticas às mais prestigiadas faculdades de Direito norte-americanas, que formaram todos os nove juízes que compõem o Supremo (Thomas licenciou-se em Yale, mas mantém uma relação tensa com a sua universidade, tendo chegado mesmo a proibir os responsáveis de pendurarem a sua fotografia no quadro de honra). Na sua autobiografia, intitulada My Grandfather’s Son, está bem patente a desavença com Yale: "Como símbolo da minha desilusão, arranquei o selo do preço de um maço de cigarros e coloquei-o na moldura do meu certificado de licenciatura, para me lembrar do erro que cometi ao entrar em Yale."

O juiz Clarence Thomas foi nomeado em 1991 pelo então Presidente George Bush, em substituição do primeiro juiz afro-americano no Supremo, Thurgood Marshall. É considerado um dos juízes mais conservadores da mais alta instância judicial dos EUA.