Maduro, Cabello e Ramirez, o trio que governa a Venezuela
"É óbvio que está em curso uma transição. A questão é, quanto tempo durará", diz o analista venezuelano Luis Vicente Leon.
O cancro de Chávez deixou-o num precário estado de saúde num hospital cubano e criou um vazio na liderança depois de 14 anos de socialismo com culto de personalidade que tornou Chávez numa figura dominante na América Latina.
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O cancro de Chávez deixou-o num precário estado de saúde num hospital cubano e criou um vazio na liderança depois de 14 anos de socialismo com culto de personalidade que tornou Chávez numa figura dominante na América Latina.
Devido a um sistema de micro-gestão que deixou nas suas mãos uma importante parte das decisões, e devido à sua capacidade única para controlar alianças com os sindicatos e com os militares, a liderança tem agora de ser partilhada pelos seus homens de topo.
O vice-presidente (e nomeado sucessor) Nicolás Maduro, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e o ministro do Petróleo, Rafael Ramirez - um herdeiro político, um soldado e um verdadeiro 'patrão' da energia - estão a emergir como os arquitectos da transição para o tempo pós-Chávez.
"Não creio que dentro do partido exista uma só pessoa que possa substituir o Presidente", diz Heinz Dieterich, um sociólogo que vive no México e que já foi conselheiro de Hugo Chávez quando este traçou a sua ideia de socialismo do século XXI.
Os três dirigentes têm dado sinais de que estão a participar numa espécie de teste às suas capacidades, enquanto dividem responsabilidades na ausência do Presidente, que não pôde fazer o juramento da tomada de posse do seu quarto mandato, no dia 10. Chávez, operado no dia 11 de Dezembro de 2012, tem uma infecção pulmonar e sofre de insuficiência respiratória [o seu irmão, Adán Chávez, garantiu no fim-de-semana que não está em coma, está consciente e a par do que se passa na Venezuela].
O equilíbrio de poderes entre os três homens - que nem sempre se deram bem -e a sua capacidade para trabalharem juntos será crucial para determinar se a Venezuela continua no caminho de Chávez e do seu socialismo radical ou se evolui para uma administração mais moderada seguindo o modelo do Brasil. Críticos indignados dizem que a Venezuela está submetida à vontade e ao domínio de Cuba, onde Chávez está a ser tratado e protegido pelo segredo de Estado.
A "troika" venezuelana reuniu ali no domingo e foi recebida pelo Presidente Raul Castro. "Sabemos quem é o comandante que lhes está a dar ordens"", disse a deputada da oposição Maria Corina Machado.
Se Chávez deixar o cargo, terão de se realizar novas eleições, com Maduro a concorrer pelo Partido Socialista Unido da Venezuela. Mas o governo tem dado poucas informações sobre a condição de Chávez. As autoridades dizem que não são necessárias mais informações nem um relatório médico para se decidir que Chávez continua na presidência. (...)
Maduro, um antigo sindicalista, condutor de autocarros de profissão, foi ministro dos Negócios Estrangeiros e é, agora, "Presidente à espera"; tem a bênção de Chávez como futuro líder.
Considerado um moderado que sabe dialogar, já iniciou contactos com os Estados Unidos da América, depois de anos de relações geladas ou quase cortadas com Washington. Poderá aliviar a polarização remendando os laços com a oposição, mas arrisca provocar a ira dos radicais se se movimentar demasiado depressa.
Cabello, um ex-militar, participou no golpe falhado de 1992 [contra o Presidente Carlos Andrés Perez] que tornou Chávez famoso. Tem mais influência do que Maduro junto dos militares e "controla" alguns ministérios e alguns governadores estaduais. Como presidente do Parlamento, pode tornar-se chefe de Estado interino se Chávez morrer. É considerado mais intransigente do que Maduro e um membro da oposição chamou-lhe "Al Capone".
O sociólogo Dieterich diz acreditar que Cabello trairá Chávez da mesma forma que Estaline consolidou o seu poder dentro do Partido Comunista soviético, apesar de Lenine ter deixado instruções que diziam claramente que Estaline deveria ser afastado.
Os aliados de Chávez criticaram duramente o sociólogo e Maduro e Cabello têm feito declarações sobre união, não se esquivando a abraços nas emissões televisivas. "As pessoas estão preocupadas com a possibilidade de Diosdado e eu nos estamos a matar", disse Maduro no dia da tomada de posse - a cerimónia realizou-se, apesar da ausência do Presidente. "Estamos mais unidos do que nunca. Estamos a matar-nos de amor pelo povo e devido à nossa lealdade para com Chávez".
Ramirez, que dirige a companhia estatal de petróleo PDVSA, também começou a sua campanha de influência fazendo declarações laudatórias de apoio a Chávez e jurando que os trabalhadores do "seu" sector são fiéis ao Presidente e à sua via da revolução.
Ramirez é um importante peso na balança uma vez que controla os petrodólares que financiam os programas sociais de Chávez. É também ele quem dirige a gigantesca campanha de construção de habitações (dezenas de milhares) para as famílias que ajudaram Chávez a ser reeleito.
“A PDVSA pertence ao povo - disse - e permanecerá nas mãos do povo", disse na semana passada numa reunião com sindicatos e directores. "Agora, mais do que nunca, há unidade entre os revolucionários".
Ramirez é muito leal a Chávez o que, por vezes, o leva a secundarizar as suas próprias opiniões. Porém, os anos que leva à frente das negociações com as empresas estrangeiras pode ajudá-lo a construir pontes com a oposição se a realidade política tiver que mudar. Foi ele que dirigiu as grandes nacionalizações do sector petrolífero, mas também conseguiu investimento dos gigantes internacionais quando o governo precisou deles.
A equipa de Chávez diz que o Presidente está a recuperar. A oposição insiste que Maduro, Cabello e Ramirez estão a preparar a era pós-Chávez se o Presidente não puder regressar. "É óbvio que está em curso uma transição. A questão é, quanto tempo durará", diz o analista venezuelano Luis Vicente Leon.