Milhares em Paris contra legalização do casamento gay

Organizadores reclamam 800 mil pessoas num protesto para exigir ao Presidente François Hollande que recue na lei.

Foto
Organizações próximas da Igreja Católica e Jean-François Copé, líder da oposição de direita, ajudaram na mobilização Benoit Tessier/Reuters

Com o apoio explícito da Igreja Católica e da direita, a “manifestação para todos” — slogan que responde à promessa de “casamento para todos” feita por François Hollande —, quis mostrar ao Eliseu a oposição que há na sociedade ao diploma. O Governo reagiu, reafirmando que a lei será alterada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Com o apoio explícito da Igreja Católica e da direita, a “manifestação para todos” — slogan que responde à promessa de “casamento para todos” feita por François Hollande —, quis mostrar ao Eliseu a oposição que há na sociedade ao diploma. O Governo reagiu, reafirmando que a lei será alterada.

Ao final da tarde, quando os três cortejos que partiram de diferentes pontos da capital desaguaram no Campo de Marte, os organizadores anunciavam a participação de 800 mil pessoas. A polícia apontava para 340 mil, ainda assim três vezes mais do que no primeiro protesto, em Novembro, contra a anunciada alteração ao Código Civil.

A capacidade de mobilização foi a grande aposta dos organizadores que não escondiam a pretensão de equiparar o protesto ao que em 1984 juntou nas ruas de Paris mais de um milhão de pessoas em defesa do ensino privado, forçando o então Presidente François Mitterrand a desistir de um projecto para unificar o ensino.

“François Hollande tem de escutar a rua, senão temos um grave problema de democracia”, disse ao Le Monde Thibaud Louvel, um estudante de 18 anos que saiu à rua em defesa da “instituição do casamento”, mas também para contestar os planos – já adiados pelo Governo – de alargar a procriação medicamente assistida aos casais homossexuais.

Na tribuna montado aos pés da Torre Eiffel, Frigide Barjot, nome de palco da humorista católica que se tornou o rosto da contestação, reclamava o sucesso da iniciativa, dizendo que os milhares que saíram à rua provaram que “não é apenas a direita reaccionária e os católicos contra os outros”. O movimento que lidera fez questão de afirmar o protesto como apartidário, interconfessional e anti-homofóbico: as siglas políticas e os símbolos religiosos foram desaconselhados e homossexuais que se opõem à legalização do casamento gay foram chamados a intervir.

Mas por trás da máquina que levou milhares a Paris (foram fretados cinco comboios e 900 autocarros) estiveram organizações próximas da Igreja Católica e Jean-François Copé, o líder da oposição de direita, encabeçou uma das marchas. O arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, foi ter com os manifestantes para os “encorajar”. E na cauda da maior manifestação seguiu um cortejo mais pequeno onde desfilaram católicos integristas e nacionalistas.

O Governo apressou-se a desvalorizar o primeira grande protesto contra Hollande e o primeiro-secretário dos socialistas, Harlem Désir, disse que o partido “irá até ao fim com a grande reforma de progresso que os franceses desejam”. As últimas sondagens mostram que 56% dos franceses apoiam a legalização do casamento gay, menos 10 pontos percentuais desde que a direita começou a mobilizar-se.