Albergues do Porto produzem cogumelos “gourmet” para ajudar sem-abrigo
Associação espera produzir este ano 600 a 800 quilos de cogumelos a partir de troncos de eucalipto. Os "shiitake", oriundos do Japão, têm propriedades medicinais
A Associação dos Albergues Nocturnos do Porto (AANP) estima produzir em 2013 entre 600 a 800 quilos de cogumelos "gourmet" a partir de troncos de eucalipto cujos lucros serão 100% canalizados para dar comida e dormida aos sem-abrigo da cidade.
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A Associação dos Albergues Nocturnos do Porto (AANP) estima produzir em 2013 entre 600 a 800 quilos de cogumelos "gourmet" a partir de troncos de eucalipto cujos lucros serão 100% canalizados para dar comida e dormida aos sem-abrigo da cidade.
É num terreno agrícola de dois hectares em Paço de Sousa, a 20 minutos de carro da cidade do Porto, que estão a ser criados, em centenas de troncos de eucalipto, os "shiitake", uma espécie de cogumelos oriunda do Japão, com propriedades medicinais para o tratamento e controle de pressão arterial, redução do nível de colesterol, fortalecimento do sistema imunológico, e inibição do desenvolvimento de tumores, vírus e bactérias.
“Promover a sustentabilidade económica da Instituição Particular de Solidariedade Social AANP, criar oportunidades de inserção profissional para pessoas em situação de exclusão e assegurar a sustentabilidade ambiental, por via da estrita observância dos preceitos ecológicos em toda a linha de produção dos cogumelos são os três objectivos primordiais do projecto “Cogumelo Solidário”, explicou à Lusa o director técnico dos Albergues Nocturnos, Miguel Neves.
Aumentar a auto-suficiência é imprescindível para a AANP, pois cerca de 40% das verbas necessárias para as despesas da instituição provêm de donativos que começam a escassear em tempos de crise, explica aquele responsável. Os restantes 60% das despesas da AANP são cobertas pela Segurança Social.
Produto já tem pretendentes
“Vamos poder vender cogumelos "gourmet" em fresco, secos ou em estado aquoso para as indústrias farmacêutica e de cosmética”, garantiu Miguel Neves, revelando que o produto está já a ser namorado por restaurantes de “alta cozinha” e vegetarianos, ervanárias, grandes superfícies e mercados locais.
Os Albergues Nocturnos estão também comprometidos com a sustentabilidade social e o projecto vai criar, inicialmente, cinco postos de trabalho - um permanente e quatro sazonais. José Almeida, 41 anos, um antigo sem-abrigo dos Albergues Nocturnos do Porto, é hoje funcionário daquela instituição de solidariedade, está a ganhar o ordenado mínimo e trata por tu os "shiitake" e as várias fases de produção daquele cogumelo especial, desde a perfuração dos troncos com rebarbadora passando pela colocação de micro-organismos nos furos, até à selagem do composto com parafina.
“Garanto-lhe que vou ser o primeiro a experimentar os cogumelos gourmet”, lança José Almeida, sorrindo e acrescentando que é “um bom garfo” e que pretende comer muitos destes fungos, porque acredita no projecto. Na estufa de Paço de Sousa, os "shiitake" vão demorar entre seis a oito meses a serem colonizados e após o período de incubação no tronco é que dão origem ao cogumelo, explicou Miguel Ramos, microbiólogo e especialista na produção de cogumelos.
O "shiitake" é tradicionalmente produzido no Japão ao ar livre, mas por questões de optimização também se produz em estufa, com condições e rega mais controladas, levando a maior produtividade e eficiência do processo. “Este cogumelo, originalmente muito comercializado no Japão, tem propriedades gastronómicas e medicinais que podem ser utilizadas contra tumores”, acrescentou o especialista.
O “Cogumelo Solidário” tem um investimento inicial superior a 60 mil euros, que conta com apoio financeiro da Fundação EDP, mas também de parceiros como a Universidade Católica, Associação Florestal do Vale do Sousa, Fabricação Serração da Furna, Jardins Silvestres de Viana ou Horta do Marão.