A Pepa e o Zico ou a futilidade e o bom senso
É revelador constatar como uma campanha da Samsung, que é apenas fútil, gerou uma onda de indignação tão generalizada a ponto de a marca ter sido obrigada a retirar os vídeos que se tornaram virais.
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É revelador constatar como uma campanha da Samsung, que é apenas fútil, gerou uma onda de indignação tão generalizada a ponto de a marca ter sido obrigada a retirar os vídeos que se tornaram virais.
E, ao mesmo tempo, dezenas de milhares de pessoas estão dispostas a encontrar “motivos” que justifiquem que um cão tenha matado uma criança de 18 meses, acusando a família de negligência e pedindo uma segunda oportunidade para o animal.
Dito de outra maneira, é censurável que uma blogger de moda, chamada Pepa sonhe com malas Chanel, mas é pensável que um cão chamado Zico possa ser desculpado por uma morte.
Os dois casos mostram como as redes sociais são férteis em desencadear correntes que desafiam o bom senso e a racionalidade.
A Samsung ficou incomodada com o efeito negativo da sua campanha, que foi vítima do preconceito social contra as "queques" e as "pseudoqueques" que falam "à tia". Esse preconceito é profundamente moralista e autoritário: é crime sonhar com uma mala Chanel em tempos de crise.
Mesmo que continue a haver pessoas que sonham com malas Chanel ou outra futilidade qualquer, é preciso pôr a máscara e dizer que se tem piedade dos pobrezinhos ou se é contra o capitalismo.
Por isso, a única coisa censurável que a Samsung fez foi retirar a sua campanha e ceder a uma pressão pública que num certo sentido é uma forma de censura.
Mas se queremos falar em piedade, é igualmente estranho que, em vez de ser a morte de uma criança de 18 meses a suscitar pena, seja o cão que a matou a ser objecto de uma campanha de solidariedade.
O animal não é condenado, é abatido por ser um perigo público. No entanto, os subscritores desse abaixo-assinado agem como se o animal devesse ser absolvido em nome de valores morais.
Há qualquer coisa estranha quando tratamos a futilidade com uma fúria quase animal e tratamos a fúria de um animal como se fosse uma causa humanitária.
Correcção Pepa é blogger de moda e não modelo.