Universidade do Algarve: é possível produzir biocombustível a partir de alfarroba

A polpa de alfarroba é uma excelente matéria-prima para a produção de bioetanol, para ser usado em combinação com a gasolina

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tree-species/Flickr

A Universidade do Algarve (UAlg) está a desenvolver uma tecnologia de fermentação para produzir bioetanol de segunda geração, biocombustível aditivado à gasolina, a partir de polpa de alfarroba, disse à agência Lusa a coordenadora do projecto “Alfaetílico”.

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A Universidade do Algarve (UAlg) está a desenvolver uma tecnologia de fermentação para produzir bioetanol de segunda geração, biocombustível aditivado à gasolina, a partir de polpa de alfarroba, disse à agência Lusa a coordenadora do projecto “Alfaetílico”.

Segundo explicou Emília Costa, a polpa de alfarroba é uma excelente matéria-prima para a produção de bioetanol, (normalmente designado de álcool etílico), já que existe em Portugal, é barata, muito rica em açúcares e extraída com poucos gastos de energia.

“O processo de fermentação é mais fácil e evita-se recorrer aos cereais, que são bens alimentares”, frisou a investigadora, adiantando que noutros países como o Brasil ou os Estados Unidos aquele biocombustível é obtido a partir do trigo, milho ou cana de açúcar.

O bioetanol é para ser usado em combinação com a gasolina, mas em Portugal não existe nenhuma unidade de produção daquele combustível, cuja inserção no mercado será obrigatória até 2020, segundo uma diretiva comunitária, acrescentou Emília Costa.

Contudo, de acordo com a investigadora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da UAlg, a produção nacional de alfarroba não chegaria para satisfazer a procura do biocombustível, pelo que teriam que ser usados outros materiais, como os citrinos. “Teríamos que duplicar ou triplicar a produção de alfarroba para alimentar uma biorrefinaria”, referiu, lembrando que o país já foi um dos líderes mundiais na produção do fruto, que agora ronda as 55 mil toneladas por ano.

A utilização do bietanol - que já alimenta a maioria do parque automóvel no Brasil -, faria diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, mais poluentes e caros, sublinhou Emília Costa.

“Na Europa caminha-se mais devagar, mas há recursos em Portugal para produzir bioetanol e se não tivermos temos que importar”, afirmou, acrescentando que o processo não é assim tão complexo e o investimento não seria igualmente muito avultado.

O projecto “Alfaetílico” já está em curso há três anos, mas em Dezembro foram apresentados os primeiros resultados, sendo o próximo passo o de patentear o processo, já que a parte de investigação está concluída.

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Engenharia e Biotecnologia Ambiental do CIMA e na estação-piloto de fermentação foi operacionalizado e monitorizado o processo de produção de bioetanol em diversos sistemas, já na perspectiva de produção semi-industrial.

A fermentação alcoólica é realizada por uma estirpe autóctone da levedura, que foi isolada pela equipa de investigação da Universidade do Algarve.

O “Alfaetílico” é um projeto financiado pelo Programa QREN/PO Algarve 21, um consórcio entre a Universidade do Algarve (UAlg) e indústrias de transformação de alfarroba do Algarve - Agrupamento de Alfarroba e Amêndoa.