França já está a combater islamistas no Mali
Presidente François Hollande diz que tropas estão a ajudar as forças do país e continuarão até ser necessário.
Na tarde desta sexta-feira, disse Hollande, tropas francesas “deram apoio a unidades do Mali para lutar contra elementos terroristas”, enquanto o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, confirmava ataques aéreos contra os islamistas.
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Na tarde desta sexta-feira, disse Hollande, tropas francesas “deram apoio a unidades do Mali para lutar contra elementos terroristas”, enquanto o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, confirmava ataques aéreos contra os islamistas.
A acção francesa, prosseguiu Hollande, foi decidida na manhã desta sexta-feira, e iria continuar “enquanto fosse necessário”. O Presidente tinha antes dito que Paris só avançaria com o apoio da ONU, garantiu que a intervenção respeitava a lei internacional.
A França foi o primeiro país a responder ao apelo do Presidente do Mali, Dioncounda Traoré, forçado a reconhecer a incapacidade do Exército nacional em travar o avanço das forças rebeldes que desde Abril controlam o território desértico a Norte do país — e que na quinta-feira se aproximaram um pouco mais da capital, Bamaco, ao conquistar a cidade de Konna, uma posição estratégica.
Há meses que o país vive dividido ao meio, com os separatistas tuaregues que lutam pela autodeterminação da população Azawad, e grupos islamistas alegadamente ligados à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, a substituírem-se às autoridades nacionais e prevalecer como o poder nas cidades do Norte, incluindo a histórica e mítica Tombuctu. Ali, como em Gao e Kidal, os rebeldes instauraram a lei islâmica (sharia) e destruíram vários edifícios classificados pela Unesco.
O caso está na agenda internacional, mas até agora as Nações Unidas e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental não conseguiram acertar uma estratégia para acudir ao Governo de Bamaco.
Após a perda de Konna, a situação tornou-se “intolerável”. A cidade que serve de portão entrada para o Sul — e que até agora era um muro intransponível —, caiu após dois dias de violentos combates, que culminaram com a retirada das forças governamentais. “A situação é muito séria, muito perigosa. Entramos num período crítico”, lamentou pelo telefone um oficial do Exército entrevistado pelo The New York Times.
Rebeldes avançam para Sul
A seriedade da situação ficou patente no pedido de “assistência militar urgente” do Presidente Traoré, imediatamente após a retoma das hostilidades. “Estamos disponíveis para intervir e preparados para repelir os avanços dos terroristas”, respondeu inicialmente o Presidente francês, François Hollande, acrescentando contudo que Paris precisava de ver a sua disponibilidade ratificada pelas Nações Unidas. Mais tarde, confirmou a entrada em acção das tropas francesas.
Bruxelas também vai “acelerar os preparativos para o destacamento de uma missão militar para o apoio e treino das forças do Mali”, prometeu nesta sexta-feira a alta representante para a política externa da União Europeia. Catherine Ashton disse ainda que os Vinte e Sete poderão avançar com sanções dirigidas a “todos os grupos” que apoiam as organizações militantes que se movimentam no Mali.
O Conselho de Segurança da ONU reuniu de emergência na quinta-feira à noite. “A grave deterioração da situação põe em causa a estabilidade e integridade do Mali e constitui uma ameaça directa à paz e segurança internacional”, alertou o conselho, repetindo anteriores apelos aos seus membros para montarem uma operação militar em auxílio do Governo de Bamaco. “O que está em risco é a sustentabilidade do Governo e a protecção das populações civis”, reforçou o embaixador francês Gerard Araud.
A conquista de Konna mostra que os combatentes podem estar prontos para se expandir para além do deserto. Depois de tomarem as três maiores cidades do Norte, as forças separatistas pareciam mais dispostas a consolidar o poder do que em arrecadar mais território: a batalha por Konna revela uma nova ambição do movimento rebelde.
O Exército do Mali, surpreendido com o ataque a Konna, retirou as suas forças para Sul e organiza-se agora para defender as cidades de Mopti (100 mil habitantes) e Sévaré, ambas servidas por aeroportos — as agências Reuters e AP escreviam que organizações humanitárias internacionais começaram a retirar o seu pessoal destas zonas, e as populações começaram a abandonar as suas casas antecipando a chegada dos rebeldes.