A Casa dos Segredos é verdade…
Esta última “Casa dos Segredos” foi apenas mais um exemplo de um programa de televisão segundo um modelo já ensaiado, retemperado com novos nomes e subtis diferenças, mas que gera sempre uma renovada comichão
Muita discussão se gera à volta de programas como a “Casa dos Segredos”: quando começam, enquanto duram e quando acabam. Lembro-me bem da primeira casa, do primeiro “Big Brother” em Portugal, dos diversos debates mediáticos que originou e das audiências que arrebanhou…
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Muita discussão se gera à volta de programas como a “Casa dos Segredos”: quando começam, enquanto duram e quando acabam. Lembro-me bem da primeira casa, do primeiro “Big Brother” em Portugal, dos diversos debates mediáticos que originou e das audiências que arrebanhou…
Esta última “Casa dos Segredos” foi apenas mais um exemplo de um programa de televisão segundo um modelo já ensaiado, retemperado com novos nomes e subtis diferenças, mas que gera sempre uma renovada comichão: àqueles que gostam do programa porque sentem a necessidade de o seguir, de o comentar, de votar e assistir; aos que não gostam porque sentem a necessidade de rebaixar o programa identificando-o com o sinal dos tempos desgraçados. Só uns poucos conseguem ficar verdadeiramente imunes e indiferentes, nunca vendo o programa e nem sequer o comentando…
Eu sou dos que quase não vê mas comenta: porque não me interessa o programa em si e as suas atribuladas peripécias quotidianas mas sim o que ele representa. E ele representa uma verdade das sociedades que nem sequer é um exclusivo nacional: muitos cidadãos das sociedades desenvolvidas são fielmente retratados pelas figuras dos habitantes destas casas. O facto é que aquelas são pessoas reais que representam muitas outras pessoas reias. E, isso sim, é preocupante.
No caso concreto de Portugal representa uma verdade inconveniente: ainda temos jovens demais com pouca educação, com pouca cultura, sem capacidade de raciocínio crítico, sem criatividade, enfim, pouco desenvolvidos intelectualmente. E isso é triste. Pelo menos para aqueles que, como eu, sentem que é desse desenvolvimento intelectual que brota a melhoria social, que nasce o crescimento económico e que se fortalece a democracia.
Eu não gosto de ver estes programas… Simplesmente não me divertem. E se é verdade que há, entre os espectadores destes “reality shows”, muitas pessoas com formações académicas avançadas, isso só é ainda mais triste pois significa que nem mesmo com essa formação adicional conseguiram verdadeiramente evoluir ao nível intelectual: porque lhes continua a excitar a intriga, os berros, os insultos, a boçalidade, o basismo, o primarismo, os argumentos ilógicos e as narrativas infantis… E nem interessa sequer saber quanto da casa dos segredos é ensaio, guião e quanto é real. É tudo farinha do mesmo saco… Aqueles concorrentes são pessoas reais e as dinâmicas que estabelecem representam muito bem as dinâmicas de uma grande parte do povo português.
Não me interessa, assim, a discussão de que tipo de pessoas é que vê ou deixa de ver estes programas. A verdade é que muitos vêem (as audiências estão aí para o provar), desde os que fazem gala em o dizer até aos que vêem e não dizem por vergonha.
O que me interessa é ressaltar que é um sintoma de subdesenvolvimento intelectual programas como estes terem tantas audiências… Mas nisso, há uma utilidade nestas casas: são um sinal de que algo está mal! Sejamos, então, inteligentes e escutemos os sinais e pensemos nas formas de ultrapassar esse subdesenvolvimento para que, num futuro, estes programas passem a ser marginais (porque ninguém esta interessados em os ver e porque ninguém está disponível para neles participar) e que, finalmente, já nem sequer mereçam uma discussão…