Gérard, de Obélix a Depardieuvitch
Já decidiu sair de França, mas a atribuição de um passaporte russo pode desviá-lo do exílio na Bélgica.
Depois da renúncia ao passaporte francês e da intenção de se mudar para a Bélgica, onde pagaria menos impostos, o actor viu agora abrir-se mais uma porta para escapar ao fisco francês: Vladimir Putin deu-lhe o passaporte russo e Depardieu respondeu com um entusiasmo que não caiu bem nem no país onde nasceu, nem entre a oposição do país que o quer acolher.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Depois da renúncia ao passaporte francês e da intenção de se mudar para a Bélgica, onde pagaria menos impostos, o actor viu agora abrir-se mais uma porta para escapar ao fisco francês: Vladimir Putin deu-lhe o passaporte russo e Depardieu respondeu com um entusiasmo que não caiu bem nem no país onde nasceu, nem entre a oposição do país que o quer acolher.
O actor agradeceu o gesto de Putin numa carta tornada pública esta sexta-feira pelo canal privado russo Perviy, em que revela também uma conversa com o Presidente francês, François Hollande: "Ele sabe que amo muito o vosso Presidente Vladimir Putin e que esse sentimento é recíproco. Disse-lhe que a Rússia é uma grande democracia e que o seu primeiro-ministro não se refere a um cidadão como sendo um miserável". Gérard Depardieu não quis deixar de dar o troco ao primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, que usou o termo "minable" (miserável, patético) quando comentou a intenção do actor de mudar a sua residência fiscal para a Bélgica, no mês passado, devido à promessa de Hollande de aplicar uma taxa de 75% sobre os rendimentos dos mais ricos – uma proposta entretanto chumbada pelo Tribunal Constitucional mas que o Presidente francês não tenciona deixar cair.
Na carta, o actor confirma que foi ele quem pediu a nacionalidade russa, garante que vai aprender a falar a língua e explica as razões que o levam a sentir-se orgulhoso com o seu novo passaporte. "Não existe maldade na Rússia, existem apenas grandes sentimentos. E por trás desses sentimentos, muita modéstia." A carta termina com um brinde e com um agradecimento: "Glória à Rússia!! Obrigado!"
Tchetchénia também abre as portas a Depardieu
Mais controversa do que a sua amizade com Vladimir Putin é a ligação ao Presidente tchetcheno, Ramzan Kadirov, apoiado por Moscovo e acusado por organizações internacionais de mandar assassinar e torturar os seus opositores e de ser responsável por outras violações dos direitos humanos – em 2009, o semanário russo em língua inglesa The St. Petersburg Times escreveu que Kadirov "descreve as mulheres como sendo propriedade dos seus maridos e diz que o principal papel delas é ter filhos", numa notícia intitulada "Presidente da Tchetchénia Kadirov defende homicídios em defesa da honra".
No dia em que o Presidente da Tchetchénia celebrou o 36.º aniversário, a 5 de Outubro do ano passado, Gérard Depardieu deixou a sua marca na festa. Num vídeo posto a circular na Internet, ouve-se o actor a gritar: "Glória a Grozni! Glória à Tchetchénia! Glória a Kadirov!" Sem surpresas, em declarações à rádio Eco de Moscovo, na quinta-feira, um porta-voz de Ramzan Kadirov fez saber que Depardieu será muito bem recebido na Tchetchénia, se entretanto puser de lado os planos para se exilar na Bélgica, o que ainda não confirmou. "Se Depardieu se quiser instalar na Tchetchénia, essa decisão será muito estimada", cita o site do jornal francês Le Monde.
Em boa verdade, Gérard Depardieu está longe de ser a única estrela a participar em festas e outros eventos organizados pelo Presidente tchetcheno. Em 2011, a extravagante festa de aniversário de Kadirov contou com a presença da violinista Vanessa Mae; do actor belga Jean-Claude Van Damme, que executou em palco um dos seus famosos golpes de artes marciais; e da actriz norte-americana Hillary Swank, que desejou os parabéns e se desfez em elogios ao líder tchetcheno: "Para mim, é uma grande honra aprender mais sobre si e o seu país e sobre o que está a construir aqui", disse a vencedora do Óscar de Melhor Actriz em 2000 (Os Rapazes Não Choram) e em 2005 (Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos).
Cinco meses antes, em Maio de 2011, antigas estrelas do futebol como Diego Maradona, Luís Figo, Jean-Pierre Papin ou Ivan Zamorano jogaram em Grozni contra uma equipa seleccionada pelo próprio Presidente, na inauguração de um novo estádio. A equipa de Kadirov goleou a selecção de Maradona e Figo por 5-2, Kadirov jogou com a camisola n.º 10 e fez os passes para quatro dos cinco golos.