João Fernandes ao jornal ABC: “Em Portugal tem havido sempre um grande alheamento do poder político face à cultura”

O actual director adjunto do Rainha Sofia e ex-director artístico do Museu de Serralves diz que “os museus estão hoje muito domesticados pelo turismo de massas”

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João Fernandes, director adjunto do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid Elias Amor

Especificando as consequências que estas diferentes visões têm na área da cultura, e realçando a “grande ambição” que presidiu à criação da colecção do Rainha Sofia, Fernandes nota: “Houve um desígnio para a cultura por parte das estruturas de poder da sociedade espanhola; [ao contrário] em Portugal tem havido sempre um grande alheamento do poder político face à cultura”.

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Especificando as consequências que estas diferentes visões têm na área da cultura, e realçando a “grande ambição” que presidiu à criação da colecção do Rainha Sofia, Fernandes nota: “Houve um desígnio para a cultura por parte das estruturas de poder da sociedade espanhola; [ao contrário] em Portugal tem havido sempre um grande alheamento do poder político face à cultura”.

Respondendo a uma questão da jornalista Belén Rodrigo sobre as circunstâncias em que chegou à direcção do museu de arte contemporânea de Madrid, João Fernandes lembrou o convite que lhe foi feito pelo director do Rainha Sofia, Manuel Borja-Villel. E referiu a “cumplicidade” que partilha com ele em “muitas coisas relativas ao mundo da arte, nos dias de hoje”. “Trabalhamos para que um museu não seja um mausoléu, mas antes uma entidade que desenvolve redes muito dinâmicas com outros museus”. João Fernandes, que acabou de assumir o cargo em Madrid, constata que “os museus estão hoje muito domesticados pelo turismo de massas que os invade, e o Rainha Sofia acolhe sempre muitos turistas”. Não desvalorizando a importância dessa procura e desse movimento, o novo director adjunto do museu de Madrid nota “o grande desafio que é saber o que fazer com a gente que o visita”. “Queremos que o espectador seja mais lúcido, exigente e crítico quando se confronta com a obra de arte e que [a visita] não sirva unicamente para depois dizer que esteve lá”.

Sobre o fim do seu vínculo com o Museu de Serralves, onde entrou em 1996, e que dirigiu desde 2003, João Fernandes reconhece que esse foi um projecto que marcou a sua vida, mas que “era importante saber sair no momento certo”. “O Museu de Serralves deve dar continuidade ao seu projecto dinâmico independentemente dos protagonistas”, disse o ex-director, elogiando a sua sucessora no Porto, a australiana Suzanne Cotter, e valorizando o facto de ela ter sido escolhida através de um concurso internacional, algo que não é habitual em Portugal.

À pergunta sobre se os visitantes do Rainha Sofia vão, a partir de agora, poder ver mais arte portuguesa, Fernandes responde: “Não venho para Madrid como embaixador, além de que trabalho com artistas independentemente do seu passaporte. Mas é verdade que conheço bem o contexto português, que é algo que creio não se conhecer bem em Espanha”.