Morreu Carl Woese, o cientista que descobriu o terceiro ramo da árvore da vida

O norte-americano descobriu que os microrganismos que vivem em ambientes extremos são um grupo completamente à parte de tudo o resto que se conhece.

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Carl Woese revolucionou a forma de caracterizar as bactérias Jason Lindsey

Um dos maiores enigmas da biologia está relacionado com a evolução e com os processos que fizeram as primeiras formas de vida transformarem-se na diversidade que existe hoje. É este enigma que cientista tinha em mente.

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Um dos maiores enigmas da biologia está relacionado com a evolução e com os processos que fizeram as primeiras formas de vida transformarem-se na diversidade que existe hoje. É este enigma que cientista tinha em mente.

Woese nasceu a 15 de Julho de 1928, em Siracusa, uma cidade no estado de Nova Iorque. Licenciou-se em matemática e física na Universidade de Amherst em 1950 e três anos depois fez o doutoramento em biofísica na Universidade de Yale. Em 1964, entrou para a Universidade de Illinois como professor, onde trabalhou até morrer.

Durante a década de 1970, o cientista tentou compreender melhor a relação evolutiva entre as espécies de bactérias. “Para realmente compreendermos a biologia, é preciso compreendermos de onde tudo veio”, disse o cientista, que defendia que a vida microbiana era um componente fulcral da biosfera.

Todas as formas de vida provêm de um único antepassado comum, há mais de 3500 milhões de anos. Nos anos de 1970, defendia-se que a evolução tinha resultado em dois grandes ramos diferentes, dois domínios da vida. Um domínio era os eucariotas, que reúne organismos com células com núcleo (onde está guardado o ADN), que podem ter uma só célula como a amiba. O outro domínio agrupava as bactérias.

Carl Woese revolucionou a forma de caracterizar as bactérias, e não só, graças a novas técnicas de análise de ADN que apareceram na altura. Em vez de se apoiar em características físicas, utilizou a sequenciação de moléculas do ADN dos ribossomas – as fábricas de proteínas que estão em todas as células – para comparar a distância evolutiva entre as espécies de bactérias.

“Fez uma métrica para determinar o parentesco a nível evolutivo”, explicou Norman Pace, um microbiólogo da Universidade do Colorado. “Os seus resultados foram os primeiros a provar que toda a vida na Terra estava relacionada entre si”, disse, citado pelo jornal New York Times.

Desta forma, também descobriu um grupo de microrganismos que eram tão diferentes das bactérias quanto de um cão. Em 1977, o cientista publicou, com outros colegas, dois artigos científicos onde anuncia a descoberta as archaea, ou arquea. Este novo domínio reúne organismos unicelulares sem núcleo que vivem em ambientes extremos a nível de temperatura, de salinidade ou de pH, como as fontes hidrotermais, no fundo do oceano. Entretanto, foram descobertas mais espécies de archaea no plâncton ou no tubo digestivo de animais.

Segundo o investigador, este grupo tem características tão antigas como as bactérias e vive em condições que estarão mais próximas do ambiente terrestre que existia quando a vida apareceu.

“Carl não só rescreveu o manual da biologia evolutiva, mas a sua descoberta proporcionou ferramentas para estudarmos hoje o microbioma humano, o conjunto complexo e incrivelmente diverso de microrganismos que existe no nosso corpo e que contribui tanto para a nossa saúde como para as doenças”, diz Gene Robinson, director do Instituto para a Biologia Genómica em Illinois, em comunicado.

A comunidade científica resistiu no início à teoria de Woese e só na década de 1990, quando a sequenciação dos genomas aprofundou o conhecimento deste novo grupo, é que os mais resistentes críticos se calaram. Entretanto, o biofísico foi acumulando galardões como a Medalha Nacional da Ciência dos Estados Unidos, em 2000, ou o Prémio Crafoord das Biociências, em 2003, entregue pela academia sueca.

Carl Woese teve dois filhos. O cientista, que muitos defendem ter merecido o Prémio Nobel, deixa ainda uma visão da vida na Terra: “Para mim, é claro que se a humanidade limpar da Terra todas as formas de vida multicelulares, a vida microbiana poderá mudar pouco. Se a vida microbiana desaparecer – isso seria a morte instantânea para o planeta.”