Crise à porta, cerveja em vez de whisky
Bares e discotecas de Lisboa registam um maior consumo de bebidas mais baratas. Muitos clientes nem sequer consomem
Se antes não havia noite em que não se servisse vodka ou whisky velho, agora estas garrafas pouco saem das prateleiras de alguns bares e discotecas de Lisboa que, em compensação, quase esgotam o stock da cerveja. Os efeitos da crise na vida nocturna em Lisboa são notados principalmente na alteração de hábitos dos consumidores, que optam por bebidas mais baratas, como a cerveja, ou então nem sequer consomem.
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Se antes não havia noite em que não se servisse vodka ou whisky velho, agora estas garrafas pouco saem das prateleiras de alguns bares e discotecas de Lisboa que, em compensação, quase esgotam o stock da cerveja. Os efeitos da crise na vida nocturna em Lisboa são notados principalmente na alteração de hábitos dos consumidores, que optam por bebidas mais baratas, como a cerveja, ou então nem sequer consomem.
“A passagem para um maior consumo da cerveja é óbvia, porque é muito mais barata. O whisky velho até era uma bebida com bastante saída e agora deixou de se servir”, afirmou à Lusa o representante dos comerciantes do Bairro Alto, Belino Costa. Além disso, acrescentou, tem-se notado também um acréscimo de pessoas que marcam presença num bar ou discoteca uma noite inteira sem consumir. “Muitas vezes os espaços até estão compostos, mas as pessoas não consomem. Aqui no Bairro Alto, mesmo nos bares de maior êxito, a quebra no consumo ronda os 20 e 30%, o que, a par do que se tem de descontar para o IVA, se traduz numa quebra muito acentuada na receita”, sublinhou Belino Costa.
Os efeitos são também sentidos pelos estabelecimentos do Cais do Sodré, segundo o presidente da associação dos comerciantes daquela zona, Pedro Vieira. “Nota-se que há um deslocar do consumo dos destilados para a cerveja, mas mesmo assim as pessoas em vez de beberem duas cervejas bebem só uma e é o suficiente para registar logo uma quebra”, afirmou. À semelhança do que acontece no Bairro Alto, no Cais do Sodré, segundo Pedro Vieira, a afluência aos espaços nocturnos não corresponde à facturação. “Não é por haver muita gente que sabemos que a noite vai correr bem. Ao final da noite faz-se as contas e é muito menos do que o que se esperava porque as pessoas entram, ficam, mas não consomem”, sustentou.
Já na discoteca Europa, também no Cais do Sodré, o proprietário Paulo Carmo nota uma maior quebra na afluência. “As pessoas estão a sair menos. Antes tínhamos pessoas que vinham três vezes por semana, agora saem só uma ou então o programa é mensal”, contou. A mudança de hábitos de consumo é também registada por Paulo Carmo, que critica a “venda facilitada” aos jovens nas lojas de conveniência.
“Os jovens, antes de irem consumir para a discoteca, onde o consumo é mais regular, vão primeiro a esses sítios onde a venda é mais facilitada e acho que a Câmara de Lisboa devia controlar melhor isso”, afirmou. As contas do ano ainda não estão fechadas, mas o responsável do Europa está já à espera de uma acentuada quebra de receitas.