Coimbra já não é o que era? Crise muda hábitos dos estudantes e reduz facturação dos bares
Bares estão a sentir os efeitos da crise e a "diminuição do poder de compra" dos estudantes
Os bares e cafés de Coimbra tradicionalmente frequentados por estudantes estão a perder clientes e sobretudo a baixar a facturação, nalguns casos “em mais de 50%” desde o início do ano. “Entre Janeiro e Dezembro, a nossa facturação baixou para menos de metade e o número de clientes também diminuiu de forma muito significativa”, afirma Joana Pires, proprietária de um bar da Avenida Sá da Bandeira, zona da cidade com grande concentração deste tipo de estabelecimentos.
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Os bares e cafés de Coimbra tradicionalmente frequentados por estudantes estão a perder clientes e sobretudo a baixar a facturação, nalguns casos “em mais de 50%” desde o início do ano. “Entre Janeiro e Dezembro, a nossa facturação baixou para menos de metade e o número de clientes também diminuiu de forma muito significativa”, afirma Joana Pires, proprietária de um bar da Avenida Sá da Bandeira, zona da cidade com grande concentração deste tipo de estabelecimentos.
O bar e a esplanada da Associação Académica de Coimbra (AAC) também estão a acusar os efeitos da crise, isto é, as consequências do aumento do IVA (imposto sobre o valor acrescentado) e da “diminuição do poder de compra” dos estudantes, sublinha, à agência Lusa, Filipe Pedro, co-proprietário e director financeiro da empresa concessionária daqueles espaços. Também “extraordinariamente penalizada” pela imposição da antecipação para a meia-noite da hora de fecho do bar e da esplanada (que, até ao final de Julho, funcionavam até às 04h00 e às 06h00, respectivamente), a empresa “teve de dispensar 25 trabalhadores” em 2012, lamenta o empresário.
Os despedimentos resultam da conjugação da redução do horário de funcionamento e da crise, mas esta, por si só, terá provocado uma diminuição superior a 20% no volume de facturação do bar e da esplanada, calcula Filipe Pedro, salientando que a esta quebra se devem juntar as perdas registadas em 2011, na “ordem dos 10%”. O bar e a esplanada da AAC “não têm perdido muitos clientes”, mas estes “consomem muito menos, sendo frequente uma cerveja ou um café, por exemplo, serem a única despesa” durante horas numa mesa ocupada por duas ou três pessoas, explica, sublinhando que na venda de comida “a quebra é ainda muito maior”.
Inês Ribeiro, estudante de Direito e com o pai desempregado, teve de “arranjar um part-time”, mas há muito que deixou “os jantares fora de casa e os copos com amigos”: “Sabendo o que sei, não tenho coragem de pedir dinheiro para me divertir”. “Custa muito dinheiro sair à noite”, assegura João Gaspar, mestrando da Faculdade de Letras, justificando o facto de serem cada vez mais os estudantes que saem de casa com uma “garrafa debaixo do braço”, comprada no supermercado ou com bebidas confeccionadas por eles próprios em casa.
Os bares que exigem consumo mínimo parecem “estar a mudar essa estratégia”, pois são os que estão a perder mais clientes, admite Tiago Ferreira, estudante de Engenharia, considerando que são cada vez mais os estudantes que vão a um bar e só consomem uma ou duas bebidas. “O tipo de bebidas que a malta bebe” também está a mudar.
Para gastar menos dinheiro, há quem recorra cada vez mais a shots, em prejuízo, por exemplo, da cerveja. Também já não falta, por outro lado, quem use a tradicional chaleira para fazer o café em casa e poupar os 60 ou 70 cêntimos que custa uma bica no café, diz o mestrando João Gaspar. “O lazer e diversão são importantes e necessários, mas também são os primeiros aspectos da vida das pessoas a serem sacrificados”, sintetiza Fernando Figueiredo, estudante de Jornalismo, reconhecendo, igualmente, que a crise está a mudar a noite de Coimbra.