Assombrosa folk
Na capa do álbum anterior, "Apokalypsis", Chelsea Wolfe surgia numa simples foto que tinha tudo para ser normal. A não ser num subtil detalhe: os olhos pintados de branco, conferindo-lhe um toque de transe terrorífico. Para Wolfe, as canções têm sido entendidas sempre como encenações de ambientes fantasmagóricos, góticos, em íntimo convívio com o fim das coisas: da vida, claro, mas também das relações, da fé, das seguranças, das auto-estima. Mas onde antes reinava o tom obsessivo e claustrofóbico emprestado pelo recurso a uma sonoridade saturada e claustrofóbica de onde era difícil conseguir sair, em "Unknown Rooms" essa via é tomada de assalto por uma outra abordagem, de superiores elegância e encanto.
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Na capa do álbum anterior, "Apokalypsis", Chelsea Wolfe surgia numa simples foto que tinha tudo para ser normal. A não ser num subtil detalhe: os olhos pintados de branco, conferindo-lhe um toque de transe terrorífico. Para Wolfe, as canções têm sido entendidas sempre como encenações de ambientes fantasmagóricos, góticos, em íntimo convívio com o fim das coisas: da vida, claro, mas também das relações, da fé, das seguranças, das auto-estima. Mas onde antes reinava o tom obsessivo e claustrofóbico emprestado pelo recurso a uma sonoridade saturada e claustrofóbica de onde era difícil conseguir sair, em "Unknown Rooms" essa via é tomada de assalto por uma outra abordagem, de superiores elegância e encanto.
Como o subtítulo anuncia, desta vez é no reino da acusticidade que as canções se movem, numa contínua evocação da PJ Harvey mais folk, das CocoRosie mais desmaiadas e da Lisa Germano mais assombrada. E os ganhos são indesmentíveis: porque tudo aquilo que antes parecia apenas forma, gestão de ambientes e conforto no desconforto, dá agora lugar à prova definitiva de que há uma série de belas canções a florescer dentro de Chelsea. A maquilhagem estava claramente a mais.
Pode até ser que Chelsea Wolfe decida não insistir neste caminho pós-"Unknown Rooms", mas seria um desperdício ficar por aqui e voltar a afogar as suas canções em espessas camadas que as afastariam de uma essência tão perturbadora quanto antes mas nitidamente mais eficaz. Não há muito por onde escapar: cada uma destas 11 canções é um pequeno portento de beleza. Quer quando canta os animadores versos “everything you owned is gone, everything you''ve known is wrong, everyone you''ve loved has left, everything you''ve touched is dead” na deslumbrante "Virginia Woolf Underwater", quer quando uiva um pequeno lamento chamado "I Died With You" ou até quando soa quase a uma Lhasa expurgada de referências mexicanas em "Appalachia".
Um dos discos mais subterrâneos e encantadores dos últimos meses, a merecer uma visibilidade que a postura esquiva de Wolfe dificilmente facilitará.