Instituto do Sangue desaconselha recurso a bancos privados do cordão umbilical
Depois das críticas do Conselho de Ética, também o IPST vem agora pôr em causa a utilidade actual da conservação do sangue do cordão umbilical.
No momento actual, tendo em conta a probabilidade de uma criança ser afectada por um problema que justifique um autotransplante de sangue do cordão umbilical, o potencial benefício para a própria ou para um irmão é “quase residual e geralmente inexistente”, afirma o IPST num esclarecimento divulgado nesta quinta-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No momento actual, tendo em conta a probabilidade de uma criança ser afectada por um problema que justifique um autotransplante de sangue do cordão umbilical, o potencial benefício para a própria ou para um irmão é “quase residual e geralmente inexistente”, afirma o IPST num esclarecimento divulgado nesta quinta-feira.
O documento foi elaborado depois de terem surgido várias “questões públicas” sobre a utilidade clínica de as famílias criopreservarem o sangue do cordão umbilical dos seus filhos. Reconhecendo que a abordagem deste tema é “complexa e polémica”, o IPST pediu uma opinião a peritos externos. E concluiu, fazendo uma revisão da informação disponível, que as indicações para autotransplante em pediatria são muito limitadas — a probabilidade deste procedimento “rondará os quatro transplantes por cada milhão de unidades conservadas”. As indicações são limitadas a alguns casos de linfoma recidividado e tumores sólidos seleccionados, como neuroblastomas, sarcoma de Ewing, retinoblastoma e alguns tumores do sistema nervoso central, além de anemias aplásicas graves, especifica.
O IPST cita dados de 2008 dos dois maiores bancos privados americanos, com mais de 210 mil e 145 mil amostras armazenadas, para ilustrar o baixo potencial de utilização. Deste total, “apenas sete foram utilizadas para o contexto para o qual foram congeladas”, ou seja, para uso pelo próprio.
Relativamente ao potencial de utilização noutras áreas, como na medicina regenerativa, isso pode ocorrer no futuro, nomeadamente em cardiologia, neurologia e diabetes, admite o IPST. Mas são hipóteses “por enquanto especulativas” que “no estado actual não justificam a criopreservação de sangue do cordão umbilical para utilização na idade adulta”, considera, apesar de frisar que, dada a evolução que se vem verificando na área da terapia celular, se impõe “uma revisão regular desta matéria”.
Também que é difícil justificar este tipo de procedimentos com base na relação custo/benefício, considerando os preços cobrados pelos bancos privados (que rondam os 1500 euros), refere o instituto. Alertando ainda para o risco de “publicidade enganosa”, o IPST lembra que há bancos privados que publicitam a potencial aplicação no tratamento de leucemias, apesar de actualmente o autotransplante não ser “considerado como a melhor opção nesta situação”.
O esclarecimento do IPST surge uma semana depois de ter sido divulgado um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida elaborado em conjunto com o Comité de Bioética de Espanha e que é muito crítico da actuação dos bancos privados de sangue do cordão umbilical. Estes bancos fazem “promessas de aplicações irrazoáveis” e usam “estratégias de marketing agressivas e pouco transparentes”. O parecer lembra que os transplantes autólogos “não são úteis em doenças hereditárias”.
Mais de 120 mil portugueses recorreram já aos bancos de criopreservação de células do cordão umbilical existentes em Portugal, com a maior parte das amostras a serem deixadas em bancos privados. No único banco público (o Lusocord) a funcionar no país, as colheitas e o armazenamento são gratuitos.