Português que se fez passar por coordenador da ONU pode ser um impostor
Artur Baptista da Silva dizia que coordenava uma equipa da ONU encarregada pelo secretário-geral Ban Ki-moon para apresentar um relatório da crise na Europa do Sul. Foi entrevistado em programas de TV e por jornais como o Expresso. Apresentou três pontos para uma renegociação com a troika. Um dia depois de ter sido entrevistado pelo programa Expresso da Meia-Noite, a SIC revela que tudo pode ter sido mentira.
"Não faz sentido, a história não bate certo e é absolutamente improvável", disse domingo à noite ao PÚBLICO o mais destacado alto funcionário português da ONU, Vítor Ângelo, que foi secretário-geral adjunto da organização antes de se reformar, há dois anos.
"Sob o ponto de vista do PNUD, não há nada que justifique criar um observatório para a Europa do Sul", diz Ângelo, que hoje é consultor internacional baseado em Bruxelas. "No Sul da Europa há uma crise, mas não uma crise que ponha em causa a paz e segurança internacional."
Vítor Ângelo sublinha, aliás, que o escritório europeu do PNUD se ocupa essencialmente da Europa que corresponde aos países da ex-União Soviética, Cáucaso, Balcãs e Ásia Central. "Não dos países da União Europeia."
O que disse Baptista
"Estamos muito preocupados nas Nações Unidas com as consequências sociais das medidas de austeridade. Temos de sair desta crise. Nós, nas Nações Unidas, perguntámos às autoridades europeias: as autoridades portuguesas não vos pediram as mesmas condições que estão a ser dadas à Grécia, pois não? Então porque é que os senhores estão a levantar esse problema? Nós, nas Nações Unidas, fomos criados para manter a paz e erradicar a pobreza." Estas foram algumas das declarações que Artur Baptista da Silva fez no último programa do Expresso da Meia-Noite exibido pela SIC Notícias.
Menos de 24 horas depois, a própria SIC revelou numa reportagem que tudo pode ter sido uma farsa. Nenhuma fonte da ONU contactada pela SIC ouviu falar de Artur Baptista da Silva. E o seu nome não foi encontrado no site da ONU ou do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Todos os contactados pela TV disseram que não existe nenhum Observatório do PNUD encarregado de apresentar um relatório sobre a crise na Europa do Sul. Baptista da Silva dizia que era o coordenador do Observatório e consultor do Banco Mundial.
Em entrevista ao Expresso no dia 15 de Dezembro, o alegado economista, que declarou ter feito doutoramento numa universidade norte-americana e mestrado numa universidade belga, propusera a renegociação da dívida portuguesa. "Se não negociarmos já, estaremos dentro de seis meses de joelhos". Chegou a propor uma renegociação de 41% da dívida soberana.
Segundo a reportagem da SIC deste domingo, Artur Baptista da Silva teria sido responsável por uma burla numa empresa portuguesa na década de 1980, condenado por um desfalque de milhares de contos. Durante todo o dia, a emissora tentou contactá-lo sem sucesso.
O PÚBLICO também fez pesquisas nos sites do PNUD e das Nações Unidas e não encontrou nenhuma referência à Baptista da Silva.
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"Não faz sentido, a história não bate certo e é absolutamente improvável", disse domingo à noite ao PÚBLICO o mais destacado alto funcionário português da ONU, Vítor Ângelo, que foi secretário-geral adjunto da organização antes de se reformar, há dois anos.
"Sob o ponto de vista do PNUD, não há nada que justifique criar um observatório para a Europa do Sul", diz Ângelo, que hoje é consultor internacional baseado em Bruxelas. "No Sul da Europa há uma crise, mas não uma crise que ponha em causa a paz e segurança internacional."
Vítor Ângelo sublinha, aliás, que o escritório europeu do PNUD se ocupa essencialmente da Europa que corresponde aos países da ex-União Soviética, Cáucaso, Balcãs e Ásia Central. "Não dos países da União Europeia."
O que disse Baptista
"Estamos muito preocupados nas Nações Unidas com as consequências sociais das medidas de austeridade. Temos de sair desta crise. Nós, nas Nações Unidas, perguntámos às autoridades europeias: as autoridades portuguesas não vos pediram as mesmas condições que estão a ser dadas à Grécia, pois não? Então porque é que os senhores estão a levantar esse problema? Nós, nas Nações Unidas, fomos criados para manter a paz e erradicar a pobreza." Estas foram algumas das declarações que Artur Baptista da Silva fez no último programa do Expresso da Meia-Noite exibido pela SIC Notícias.
Menos de 24 horas depois, a própria SIC revelou numa reportagem que tudo pode ter sido uma farsa. Nenhuma fonte da ONU contactada pela SIC ouviu falar de Artur Baptista da Silva. E o seu nome não foi encontrado no site da ONU ou do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Todos os contactados pela TV disseram que não existe nenhum Observatório do PNUD encarregado de apresentar um relatório sobre a crise na Europa do Sul. Baptista da Silva dizia que era o coordenador do Observatório e consultor do Banco Mundial.
Em entrevista ao Expresso no dia 15 de Dezembro, o alegado economista, que declarou ter feito doutoramento numa universidade norte-americana e mestrado numa universidade belga, propusera a renegociação da dívida portuguesa. "Se não negociarmos já, estaremos dentro de seis meses de joelhos". Chegou a propor uma renegociação de 41% da dívida soberana.
Segundo a reportagem da SIC deste domingo, Artur Baptista da Silva teria sido responsável por uma burla numa empresa portuguesa na década de 1980, condenado por um desfalque de milhares de contos. Durante todo o dia, a emissora tentou contactá-lo sem sucesso.
O PÚBLICO também fez pesquisas nos sites do PNUD e das Nações Unidas e não encontrou nenhuma referência à Baptista da Silva.