Crioestaminal: parecer do Conselho de Ética “ofende inteligência dos portugueses”

Conselho Nacional de Ética arrasou bancos privados do cordão umbilical, que acusa de “prometerem o que não podem cumprir”. A resposta não se fez esperar.

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Anteriormente, os dadores de sangue estavam isentos de pagar taxas moderadoras na saúde Enric Vivies-Rubio

“Não é a primeira vez que o CNECV emite um parecer repleto de confusão e virado para a polémica”, refere a Crioestaminal num comunicado emitido nesta sexta-feira.

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“Não é a primeira vez que o CNECV emite um parecer repleto de confusão e virado para a polémica”, refere a Crioestaminal num comunicado emitido nesta sexta-feira.

O parecer do CNECV tece duras críticas aos bancos privados de conservação do sangue do cordão umbilical. Segundo alegam os seus autores, esta actividade em bancos privados “assenta num modelo comercial”, por oposição aos “princípios do altruísmo” subjacentes aos bancos públicos. Além disso, os privados adoptam “critérios de selecção e qualidade menos estritos” e fazem “promessas de aplicações irrazoáveis”.

Segundo a Crioestaminal, o parecer dos especialistas “está impregnado de uma lógica paternalista que não reconhece à pessoa humana capacidade de decisão e ofende a inteligência dos portugueses”. O parecer, diz a empresa sediada em Coimbra, “demonstra ligeireza, imprecisão e falta de fundamento científico na análise que faz ao sector da criopreservação”.

“Uma comissão que devia esclarecer e não confundir emite um parecer contraditório, em que se defende a criopreservação mas se tenta limitá-la, que exibe sectarismo ideológico, em vez de informação clara e aprofundada.”

No comunicado, a empresa refere que os critérios de qualidade e segurança dos processos relativos à criopreservação das células do cordão umbilical estão previstos na lei e aplicam-se a todas a entidades, sejam públicas ou privadas. “Ora, referir que uma das características dos bancos privados são os ‘critérios de selecção de qualidade menos estritos’ é desconhecer a realidade actual e a própria legislação”, contrapõe a empresa.

A Crioestaminal, sublinham os seus responsáveis, é uma empresa autorizada pela Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação e acreditada pela Associação Americana de Bancos de Sangue. “Além disso, é alvo de vistorias regulares, ao abrigo da referida lei, que nunca detectaram qualquer problema, e foi responsável por 12 transplantes com sucesso.”

O banco privado refere ainda que sempre foi contra “as práticas comerciais agressivas e desleais que são levadas a cabo por algumas empresas junto do público” e, por isso, considera que a generalização das críticas do CNECV a todos os bancos privados do sangue do cordão umbilical “é, no mínimo, desleal”. 

 

Amostras por 1500 euros

A Bebé Vida foi a outra empresa privada ouvida pelo CNECV e já ontem, em declarações ao PÚBLICO, também reagiu ao documento. “Nesta actividade, já estamos habituados a este tipo de pareceres”, disse Sílvia Martins, sócia-fundadora da Bebé Vida, garantindo que esta empresa “não faz promessas que não podem ser cumpridas”. De resto, a responsável defende que “os bancos públicos e privados devem coexistir” e admite ainda que outras empresas tenham cometido excessos na publicidade feita às células estaminais, como se verificou recentemente com um polémico anúncio de televisão que foi retirado.

Marika Bini, médica que trabalha na Bebé Vida, não concorda com o parecer. E observa: “Os bancos privados fazem muito sentido no campo da medicina regenerativa”, que se apoia nas células estaminais do próprio indivíduo.

No parecer do CNECV, que é assinado também pelo Comité de Bioética de Espanha, os especialistas apresentam 16 recomendações em defesa dos bancos públicos de sangue e tecido do cordão umbilical – que, reconhecem, devem ser reforçados e melhorados. De uma forma clara e inequívoca, o CNECV recomenda que se deve “promover a doação altruísta, gratuita, de sangue de cordão, do próprio cordão e placenta, para uso em transplantes alogénicos [de dador imunologicamente compatível]”.

Outra das recomendações preconiza que a colheita de sangue e tecido do cordão umbilical seja feita como rotina em todas as grávidas “para um banco público, sempre com a possibilidade de recusa por parte da mulher” e mediante consentimento informado.

O parecer nota ainda que se deve verificar em todos os casos se “as reivindicações de aplicações terapêuticas publicitadas têm validade e utilidade clínica comprovada” e que toda a actividade dos bancos, independentemente da sua natureza pública ou privada, deve ser regulada e fiscalizada.

Mais de 120 mil portugueses recorreram já aos bancos de criopreservação de células do cordão umbilical existentes em Portugal, sendo que a grande maioria das amostras foram deixadas em bancos privados. Ao contrário do único banco público (o Lusocord) a funcionar no país, em que as amostras são gratuitas, nos bancos privados paga-se pela preservação do sangue e tecido do cordão. Os preços rondam os 1500 euros.