Os dez melhores discos de 2012
Há 366 dias no calendário de 2012. Em cada dia há certamente uma lista interminável de discos editados pelo mundo todo. Escolher os melhores dos discos do ano é uma missão dantesca e ingrata, mas o pessoal do Bodyspace está cá para isso
John Talabot – "ƒIN"
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
John Talabot – "ƒIN"
Por aqui não há espaço para o pretensiosismo ou afloramentos supérfluos. E porque haveria quando existem minudências que devem a sua essência à cuidadosa depuração de elementos pop, soul e disco de outros tempos, elementos que enriquecem naturalmente as texturas house? "ƒin" é um exemplo de como a nostalgia pode viver de mãos dadas com a inventividade, gerando uma energia positiva capaz de transformar o dia mais penumbroso num fulguroso dia de pura celebração da vida. (Rafael Santos)
Black Bombaim - "Titans"
Os ecos de "Titans", disco duplo, imensidão atmosférica e bolsa de viagens por territórios ainda nem sonhados, far-se-ão ouvir até à morte final do rock n' roll (se é que esta, alguma vez, acontecerá). Aos Black Bombaim, por "Titans", e pelos seus concertos sempre imperdíveis, não poderemos dirigir outra palavra que não esta: “salvé”. O ano é todo vosso. (Paulo Cecílio)
Neneh Cherry & The Thing – "The Cherry Thing"
Fundado no ano 2000, o trio The Thing surgiu da reunião de Mats Gustafsson (saxofones), Ingebrigt Håker-Flaten (contrabaixo) e Paal Nilssen-Love (bateria), como homenagem ao histórico trompetista Don Cherry - aliás, “The Thing” é o título de uma composição sua. Ao longo desta década o trio tem vindo a trabalhar uma música improvisada de alta intensidade, servindo-se de temas rock como matéria prima, na maior parte das vezes. A união do trio com a voz de Neneh Cherry, enteada de histórico trompetista, (e)levou-o a um universo mais pop, transportando consigo a sua energia original. (Nuno Catarino)
Alt-J - "An Awesome Wave"
Sabes para onde vão as coisas selvagens? Vão indo para te tirar o mel. Que mel tens tu, rainha da minha vacina que te chamas Morfina? Isto não fez sentido nenhum. As letras de Alt-J são um caos irreconciliável e tentativa de surreal, mas enquadram-se na perfeição na música que cobrem. Há uma base convencional em "An Awesome Wave" que levou a que recebesse diversos prémios e que fosse visto ao longo do ano como um dos melhores álbuns de 2012, mas que não chega para explicar a sua totalidade. É exótico, mas previsível. (Tiago Dias)
Orelha Negra - "Orelha Negra"
O mundo seria mais bonito se propagasse mais rapidamente o talento dos Orelha Negra do que a nossa crise económica. Enquanto isso não sucede, a banda composta por Sam the Kid, DJ Cruzfader, Fred Ferreira, Francisco Rebelo e João Gomes vai fazendo pela vida por cá. Feliz encontro de pessoas afectas ao groove, ao hip-hop e à cultura urbana, os Orelha Negra são um pequeno milagre anti-tortura. E são uma bem-aventurada mistura entre tendências actuais e reminiscências soul dos anos 70. (Eugénia Azevedo)
Bill Fay - "Life Is People"
[...] se a espiritualidade já banhava oceanos vivos de humanidade em tempos de "Bill Fay" e "The Time of The Last Persecution", agora o mergulho, em pleno ano da Re-Grande Depressão, é absolutamente uma apneia contínua de inspiração, restabelecer forças, redobrar esperanças e voltar à superfície, aos saltos, como golfinhos bebés atrás do ar puro longe de tubarões e orcas más. (Nuno Leal)
Tame Impala - "Lonerism"
"Lonerism" é o disco que os novos miúdos indie podem mostrar aos pais para, finalmente, partilharem um momento de "headbanging" (ou de "trip", para os mais ousados): o pai lembra-se dos bons momentos dos anos 1960 e 70; o filho tem uma epifania e, de seguida, compra uma guitarra. Confirma-se que Kevin Parker é um geniozinho: estas melodias perfeitas, sacadas ao melhor da "psicadelia" e aos tempos em que a estranheza era normal na coisa pop, estão no cérebro do australiano, que as põe cá fora – para nosso bem. (Pedro Rios)
Hot Chip - "In Our Heads"
"In Our Heads" está carregado de boas razões para continuar a celebrar a música dos Hot Chip em 2012 e esperar deles sempre o melhor do melhor. E que melhor é esse? Todos os refrães certos, uma produção sempre acima da média (e mais apurada a cada disco, a cada single), canções quase sempre perto da perfeição, "aquela" dose indicada de humor, música elástica o suficiente para funcionar em todas as situações sociais possíveis: na pista de dança, no emprego, no flirt, no sofá, no jantar de Natal da empresa (André Gomes)
Kendrick Lamar - "good kid, m.A.A.d city"
Observador nato, Lamar vai desenvolvendo uma narrativa fascinante, coadjuvado por uma produção contida e atmosférica, capaz de acolher na perfeição as suas rimas intrincadas e a catarse que vai deambulando por entre estas canções. Ambicioso e profundamente real, "good kid, m.A.A.d. city" é um dos mais vitais e fulgurantes retratos dos 00's em memória recente. (Bruno Silva)
Frank Ocean - "Channel Orange"
Frank Ocean não só é uma personagem numa gigantesca peça – que é a indústria musical –, como é um protagonista num drama pessoal que divisou finalmente a catarse na escrita de canções. "Channel Orange" é a primeira (e a última?) consequência dessa purificação, o preâmbulo da concretização (moral?), de libertação dos fantasmas que assombravam o armário. No fundo é um momento de triunfo em que todos lucram: ele, por superar os seus receios, encetando uma nova era no estádio da sua existência, e nós, por depararmos com um genuíno trabalho de autor que usa o mais elegante e sofisticado R&B como veículo de uma expressão interior. (Rafael Santos)
O artigo completo (e a lista inteirinha dos 30 melhores álbuns) está no Bodyspace.