Luís Marinho acusa Nuno Santos de dar versões contraditórias sobre caso das imagens da RTP
Director-geral de Conteúdos nega influências externas na RTP na polémica sobre visualização de imagens da carga policial.
Luís Marinho, que esta terça-feira esteve na Comissão Parlamentar para a Ética, Cidadania e Comunicação a responder sobre a polémica na sequência de um pedido do BE, contou que falou com Nuno Santos pela primeira vez no dia 19 de Novembro, mas que a versão que o então director de Informação lhe deu acabou por ser pouco depois contrariada por dados que ele próprio recolheu.
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Luís Marinho, que esta terça-feira esteve na Comissão Parlamentar para a Ética, Cidadania e Comunicação a responder sobre a polémica na sequência de um pedido do BE, contou que falou com Nuno Santos pela primeira vez no dia 19 de Novembro, mas que a versão que o então director de Informação lhe deu acabou por ser pouco depois contrariada por dados que ele próprio recolheu.
Nesse encontro, Nuno Santos, acompanhado pelo adjunto Vítor Gonçalves, contou a Marinho que a PSP estivera na RTP, mas disse-lhe que não sabia quem tinha autorizado a sua entrada. “Não acho normal que o director e o adjunto não saibam, quatro ou cinco dias depois de as coisas acontecerem, quem autorizou a entrada e as gravações e como as coisas se passaram. [Nuno Santos] deixou-me [no ar] o nome de um subdirector e a frase ‘Eu nunca entregarei fulano’”, contou Luís Marinho aos deputados.
O director-geral de Conteúdos terá então dito a Nuno Santos que deveria falar com esse subdirector que teoricamente estava na origem do processo, ao que o então director de Informação anuiu. “O director de Informação nunca me disse: ‘A responsabilidade é minha, fui eu.’ Mas é estranho é não saber quem é”, criticou Marinho.
“Tens de saber como é que isto aconteceu. Tens que perguntar olhos nos olhos [à] fulana [subdirectora de Produção, Ana Pitas], saber como a PSP entrou cá dentro, quem copiou imagens”, terá dito Marinho a Santos. Porém, acrescentou Marinho aos deputados, no dia seguinte teve conhecimento, “entre outras pessoas da direcção, de que as coisas não tinham acontecido como ele contou”: afinal “era um pedido de visionamento geral de imagens e não apenas pelo episódio do carro [da RTP que fora abalroado]”. “Percebi que havia aqui versões muito diferentes sobre a situação, que havia um problema e que era uma situação grave.” Foi só então que comunicou o assunto ao presidente da RTP.
“Na reunião no dia seguinte, foi-me dito que a responsabilidade era de um subdirector. ‘Então tens que o demitir já, [disse Marinho a Santos].’ ‘Mas isso eu não farei, eu vou assumir a responsabilidade [terá respondido Santos a Marinho].’ ‘Então a conversa agora tem que ser com a administração [apontou Marinho].’”
O director-geral de Conteúdos negou veementemente ter tido conhecimento do caso antes de dia 19 de Novembro, uma segunda-feira. Contou ter recebido uma mensagem de telemóvel de Nuno Santos no dia 16, sexta-feira.
“A primeira vez que o director de Informação me alerta é no dia 16, por SMS, às 15h46, dizendo: ‘Há aqui uma chatice com as imagens do dia da manifestação que pode ser séria, dá-me um toque’”, relatou Marinho aos deputados. Porém, não terá conseguido falar nessa altura com Nuno Santos. Recebeu depois, disse, novo SMS em que Nuno Santos lhe dizia: “A situação está controlada.” Quando no dia 16 recebeu um email com o pedido formal da PSP de acesso a imagens da RTP da manifestação – que entendeu como sendo de imagens emitidas –, que enviou para os serviços jurídicos, Luís Marinho não estranhou e pensou mesmo “que o assunto estava encerrado”.
“Não tive conhecimento de que a polícia esteve nas instalações a visionar imagens, que pediu cópias de todas a imagens da manifestação. Não tive conhecimento do que se passou a 14 e 15 [de Novembro]”, garantiu Luís Marinho.
Aos deputados Luís Marinho fez questão de vincar, várias vezes, que considera que este é um caso do foro “interno” da RTP, recusando assim, indirectamente, quaisquer acusações de ter havido influência política por parte do Governo. “Gostava de limitar este caso a um caso que está dentro da RTP, nunca veio de fora e nunca saiu da RTP.”
"Onde me situo nesta história? Eu sou apenas uma testemunha que soube dos acontecimentos dias depois de eles terem acontecido. Primeiro de uma forma muito pouco clara, através de SMS. E depois, sim, cara a cara, com o director de Informação e o seu adjunto, que me falaram dos acontecimentos”, contou Luís Marinho, fazendo questão de vincar que, pela sua parte, “não há alegado desconhecimento; há desconhecimento”, porque não soube da gravidade do assunto até ao dia 19 de Novembro.