Coimbra: a cidade universitária e a sua região

Coimbra habituou-se a um estatuto de prima-dona, dando por garantida a sua influência e uma certa hegemonia no plano político nacional, e no quadro das decisões estratégicas.

Foto

Para os portugueses, e ao longo de muitas gerações, Coimbra foi a cidade universitária do país; para a região centro, Coimbra foi também, e durante muito tempo, a sua capital regional, a sua urbe cultural, e a referência para um conjunto alargado de serviços e, até certo ponto, o seu modelo de desenvolvimento. É com esta amplitude de referência que me permito analisar a evolução da cidade, com especial ênfase nos tempos mais recentes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Para os portugueses, e ao longo de muitas gerações, Coimbra foi a cidade universitária do país; para a região centro, Coimbra foi também, e durante muito tempo, a sua capital regional, a sua urbe cultural, e a referência para um conjunto alargado de serviços e, até certo ponto, o seu modelo de desenvolvimento. É com esta amplitude de referência que me permito analisar a evolução da cidade, com especial ênfase nos tempos mais recentes.

A condição histórica e singular de Coimbra, cidade universitária do país, deveria ser assumida como uma mais valia face às opções do presente, e sobretudo, na ambição colocada quando se planeia o seu futuro. A cooperação entre a cidade e a Universidade, é uma realidade assumida pelas duas instituições, e a capacidade para trabalharem em conjunto até certo ponto também, mas está por edificar a relação de cumplicidade, a relação mutualista que impulsionará o salto qualitativo desejável e necessário. A cidade de Coimbra habituou-se a um estatuto de prima-dona, dando por garantida a sua influência e uma certa hegemonia no plano político nacional, e no quadro das decisões estratégicas. É por isso com desconforto e extrema inabilidade, que a urbe se confronta com uma nova distribuição de poderes, mas a sua indignação é pacífica, própria de quem aceita que as razões para esta decadência são provavelmente legítimas.   

Para quem visita Coimbra, aliciado para conhecer uma das Universidades mais antigas da Europa e uma das cidades de inspiração medieval mais bonita da Península ibérica, percebe claramente que a cidade se foi moldando às vicissitudes da sua Universidade, que foi também – e durante muitos séculos – a referência intelectual do país, por onde passaram obrigatoriamente as suas elites dirigentes. Não apenas de Portugal, mas também das antigas colónias portuguesas, com destaque para os líderes políticos com responsabilidade na independência destes países. Coimbra afirmou sempre, com naturalidade, o seu estatuto de cidade universitária, cultivando ao longo de séculos uma imagem de cultura, de sabedoria e de irreverência, estatuto suportado em grande medida pelo dinamismo da sua academia, para seduzir uma nação inteira e de forma especial a comunidade lusófona. Coimbra era a Universidade da língua portuguesa.

E quais os reflexos da cidade Universitária e das suas dinâmicas na região em que esta se insere? Omito naturalmente aquele período em que a Universidade de Coimbra era a única Universidade portuguesa, e concentro-me nas dinâmicas de um tempo em que surgiram as novas escolas e universidades, e em que outras foram alargando a sua influência, conquistando um estatuto igualmente competitivo no contexto nacional e internacional. É evidente que este novo posicionamento trouxe alterações profundas, uma vez que a história deixou de ser suficiente para garantir o prestígio científico e académico. Continuou a ser essencial na estratégia de desenvolvimento e progresso da cidade, mas o mundo português deixou de girar à volta da Universidade de Coimbra e a cidade foi também perdendo identidade e influência, e dissipando o seu tradicional ascendente e a capacidade de liderança na própria região.

Ainda assim, apesar desta tendência, agravada pela expressão e dimensão da oferta nacional, e pela dificuldade das famílias portuguesas em suportar os custos da frequência do ensino superior, a universidade de Coimbra tem conseguido assegurar um crescente número de estudantes estrangeiros, o que revela um poder de atracção notável, e que resulta de uma avaliação positiva da sua performance actual. Também se pode afirmar que a Universidade começa a perceber o seu papel indispensável como catalisador de dinâmicas inovadoras para o desenvolvimento da região centro do pais, em natural sinergia com as demais instituições de ensino superior; mas a cidade de Coimbra ainda não interpretou a mudança, e tarda em reassumir protagonismo no plano político e estratégico regional. Este salto é inadiável; faz demasiada falta à coesão regional e ao equilíbrio territorial do país!