Escritor e tradutor Richard Zenith é Prémio Pessoa

Nome do sucessor de Eduardo Lourenço foi anunciado nesta sexta-feira por Francisco Pinto Balsemão.

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Nuno Ferreira Santos

O anúncio foi feito, como habitualmente, no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, que preside ao júri também constituído por Fernando Faria de Oliveira (Vice-Presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

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O anúncio foi feito, como habitualmente, no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, que preside ao júri também constituído por Fernando Faria de Oliveira (Vice-Presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

De acordo com o presidente do júri, Pinto Balsemão, a proposta do nome de Richard Zenith foi feita por duas pessoas exteriores ao Prémio Pessoa: Rui Vilar e Nicolau Santos. Balsermão lembrou que Zenith, nascido nos EUA, se tornou“cidadão de Portugal por dedicação e louvor a uma obra, a de Fernando Pessoa, uma literatura, a nossa, e uma língua, a portuguesa”. É um “estudioso e investigador da obra e figura de Fernando Pessoa, Richard Zenith tem posto o conhecimento acumulado ao longo de décadas ao serviço disciplinado e metódico de uma paixão”, acrescentou.

"Esta investigação conduziu a um entendimento mais consistente de domínios relativamente inexplorados de uma aventura pessoana, registados e fixados nos escritos autobiográficos e na fotobiografia de Pessoa. Com lucidez, Richard Zenith é não apenas um editor da obra pessoana, um explicador da heteronímia, mas também o grande tradutor da sua poética para a língua inglesa", diz a acta do júri sobre o premiado que é natural de Washington DC, tendo obtido a licenciatura em Letras na University of Virginia. Viveu na Colombia, no Brasil e em França antes de se radicar em Lisboa, em 1987.  

"A dedicação de Richard Zenith à língua e à literatura portuguesas levou-o ainda a traduzir para inglês autores clássicos e contemporâneos como Antero de Quental, Sophia de Mello Breyner, Nuno Júdice e António Lobo Antunes, Richard Zenith conta igualmente com uma produção original de poemas e contos dispersos por publicações várias".

O júri lembrou ainda que Richard Zenith foi um dos curadores da exposição "Fernando Pessoa, Plural como o Universo", que esteve entre Fevereiro e Maio na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.  A relação de Zenith com Fernando Pessoa é o centro de uma história que atravessou já fronteiras, sendo uma das mais autorizadas vozes sobre o poeta português.

Para o historiador José Sarmento de Matos, Zenith entende a língua portuguesa "na dimensão mais profunda da sua evolução e dos segredos da sua idiossincrasia, levando a palma à maioria esmagadora dos próprios portugueses". O historiador escrevia, em Março deste ano no PÚBLICO, que o trabalho de Zenith era elegante e peculiar, chamado a atenção "para uma ou outra fraseologia menos apurada nos seus contornos" por força do  "seu olhar sempre atento." Esta ideia de viagem por entre os textos surgirá de um modo de pensar a escrita de Pessoa.

Quando guiou o PÚBLICO na exposição Fernando Pessoa Plural que, depois de apresentada no Brasil se mostrou na Gulbenkian, Zenith falava de Pessoa como "um escritor que estava sempre em movimento e defendia que uma pessoa com uma mente activa não se podia fixar numa só opinião.

Mas a obra de Zenith não se esgota em Pessoa. Camoniano por paixão, o autor foi responsável, em 2009, por traduzir a lírica de Camões numa edição acompanhada por ilustrações de João fazenda. Sonetos e Outros Poemas, editado pela Planeta, mostrava que gostar de Camões e Pessoa não era uma contradição. "Estamos a assistir a um renovado movimento em torno do Renascimento português que faz lembrar a actividade de Jorge de Sena nas décadas de 60 e 70", dizia o autor em entrevista publicada no Ípsilon, sobre um livro que reunia  40 sonetos e outros 12 poemas que pretendiam "representar as várias formas poéticas" da lírica. Escolhidos por Zenith, os textos mostravam "o desconcerto do mundo, a inexorável passagem do tempo ou a experiência de exílio". Se a lírica camoniana é considerada "menor" relativamente a Os Lusíadas, lembrava Zenith, contudo, esta é a "coroa de glória tranquila para uma tumultuosa vida interior".

O prémio, de 60 mil euros, uma iniciativa do jornal Expresso (do grupo Impresa de que é presidente executivo Pinto Balsemão) patrocinada pela Caixa Geral dos Depósitos, reconhece a actividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país.

Os escritores Herberto Helder, Vasco Graça Moura, a pianista Maria Joao Pires, o bispo D. Manuel Clemente ou a cientista Maria do Carmo Fonseca são alguns dos nomes já premiados com o galardão que vai já na 26ª edição. O filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço foi o premiado da edição do ano passado.