Dalton Trevisan: "Nunca jamais pensei merecer tamanha distinção"
Cerimónia de entrega do Prémio Camões aconteceu esta quarta-feira à noite no Rio de Janeiro. O escritor brasileiro não foi receber o prémio mas enviou uma mensagem.
Não gosta de dar entrevistas nem de ser fotografado e não é visto habitualmente nas ruas. É assim que Dalton Trevisan é conhecido e já por isso em Maio a questão de o escritor aparecer ou não nesta cerimónia tinha sido levantada. O júri explicou na altura ser alheio a isso e que o escritor era premiado pelo seu mérito e não em função de poder ou não aparecer para receber o prémio.
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Não gosta de dar entrevistas nem de ser fotografado e não é visto habitualmente nas ruas. É assim que Dalton Trevisan é conhecido e já por isso em Maio a questão de o escritor aparecer ou não nesta cerimónia tinha sido levantada. O júri explicou na altura ser alheio a isso e que o escritor era premiado pelo seu mérito e não em função de poder ou não aparecer para receber o prémio.
No seu lugar foi Sonia Jardim, vice-presidente da editora Record, que há mais de 30 anos edita a suas obras, e leu uma pequena mensagem de Trevisan. “Os muitos anos, ai de mim, já me impedem de receber pessoalmente o prémio”, escreveu o escritor, actualmente com 87 anos, referindo-se ao Prémio Camões, que tem o valor de cem mil euros, como “o prémio dos prémios”. “Nunca jamais pensei merecer tamanha distinção. A consciência das minhas limitações como escritor proibiu-me sonhos mais altos. E agora, sem aviso, o prémio Camões”, continua na sua mensagem.
À Agência Brasil, a editora disse que o autor de O Vampiro de Curitiba (que passou a ser a sua alcunha) continua “activo” e está já a preparar um novo livro que deverá ser lançado em 2013.
Dalton Trevisan, que nasceu em 1925 em Curitiba, é licenciado em direito e foi depois de ter sido jornalista na área do crime e crítico de cinema que se dedicou à literatura. Começou a publicar em 1945, apesar de mais tarde ter renegado os seus dois livros de juventude: Sonata sempre ao Luar e Sete anos de Pastor. Entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, "uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil", por onde passaram os maiores nomes da cultura brasileira.
Em 1959, lançou Novelas Nada Exemplares e recebeu o Prémio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Cemitério de Elefantes (Prémio Jabuti e Prémio Fernando Chinaglia, da União Brasileira dos Escritores) foi uma das primeiras obras do escritor editadas em Portugal, pela Relógio d’Água, em 1984. Destaca-se também Noites de Amor em Granada e Morte na Praça (Prémio Luís Cláudio de Sousa, do PEN Club do Brasil). Guerra Conjugal foi transformado em filme em 1975. Só publicou até agora um romance: A Polaquinha. Em 1996, recebeu o Prémio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto da sua obra. E em 2003 dividiu com Bernardo Carvalho o Prémio Portugal Telecom de Literatura com o livro Pico na Veia. Recentemente no Brasil publicou O Anão e a Ninfeta, obra vencedora do Prémio Portugal Telecom deste ano na categoria de conto e de crónica.
Na altura em que o Prémio Camões foi anunciado, o júri justificou a escolha escrevendo que Trevisan “significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra”. “Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao fazer literário sem concessões às distracções da vida pessoal e social”, lia-se então na acta. O presidente do júri, o escritor brasileiro Silviano Santiago, evocou os contos de Machado de Assis e Edgar Allan Poe como antecedentes de Trevisan no século XIX. "Ele vem dessa direcção e encontra, no século XXI, o argentino Borges. Pega essa tradição e dentro dela é capaz de trabalhar de maneira original." Chega a "quase um poema em prosa", exprimindo o quotidiano. Um conto transformado em haiku.
O Prémio Camões, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989, é o maior prémio de prestígio da língua portuguesa, no valor de cem mil euros. Com a sua atribuição é prestada anualmente uma homenagem à literatura em português, recaindo a escolha num escritor cuja obra contribua para a projecção e reconhecimento da língua portuguesa.