O Nobel que parece levar toda a humanidade na sua caneta

O escritor sueco Per Wästberg, presidente do comité do Nobel, fez o elogio ao escritor chinês Mo Yan na cerimónia de entrega das medalhas e diplomas em Estocolmo.

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Mo Yan a receber o prémio Nobel das mãos do Rei Carlo Gustavo REUTERS/Henrik Montgomery/Scanpix

A cerimónia, onde também foram entregues os diplomas e as medalhas dos prémios Nobel da Física, da Química, da Fisiologia ou Medicina e das Ciências Económicas, decorreu no Concert Hall de Estocolmo, na Suécia. Tal como acontece todos os anos a 10 de Dezembro, data do aniversário da morte de Alfred Nobel.

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A cerimónia, onde também foram entregues os diplomas e as medalhas dos prémios Nobel da Física, da Química, da Fisiologia ou Medicina e das Ciências Económicas, decorreu no Concert Hall de Estocolmo, na Suécia. Tal como acontece todos os anos a 10 de Dezembro, data do aniversário da morte de Alfred Nobel.

O dia, para os laureados, a sua família e os seus convidados, termina com um banquete no salão azul e um baile de gala na sala dourada do edifício da Câmara Municipal de Estocolmo. Nessa altura, o escritor chinês irá fazer um discurso de cinco minutos. Na sexta-feira passada Mo Yan deu a sua palestra e no dia anterior participou numa conferência de imprensa.

Mo Yan “parece carregar toda a humanidade na ponta da sua caneta”, disse Per Wästberg durante o seu discurso de justificação de atribuição do Nobel da Literatura ao autor de Mudanças (ed. Divina Comédia) e Peito Grande, Ancas Largas (ed. Babel). “É um poeta que derruba os cartazes estereotipados de propaganda, destacando o indivíduo de uma massa humana anónima. Ao ridiculizar e ao usar o sarcasmo, Mo Yan ataca a história e as suas falsificações, bem como a degradação e a hipocrisia política”, afirmou Per Wästberg, que é um defensor dos direitos humanos e foi fundador da Amnistia Internacional na Suécia.

“Em vez de um cartaz da feliz história do comunismo, Mo Yan descreve um passado que, com os seus exageros, paródias e derivações de mitos e de lendas folclóricas, é uma revisão convincente e corrosiva de 50 anos de propaganda”, acrescentou o escritor, que fez o seu discurso em sueco e que, mesmo assim, Mo Yan parecia ouvir atentamente. Para a Academia, nas palavras de Per Wästberg, é de uma forma divertida e com um prazer mal disfarçado que Mo Yan revela, na sua obra, os aspectos mais obscuros da existência humana e, para o fazer, encontra quase inadvertidamente imagens que têm um forte peso simbólico. “A imaginação de Mo Yan eleva-se através de toda a existência humana. Ele é um excelente retratista da natureza, ele sabe virtualmente tudo o que há para saber sobre a fome, e a brutalidade da China do século XX talvez nunca tenha sido descrita tão cruamente com heróis, amantes, torturadores, bandidos - e especialmente, por mães fortes e invencíveis. Ele mostra-nos um mundo sem verdade, sentido comum ou compaixão, um mundo onde as pessoas são irresponsáveis, vulneráveis e absurdas.”
 
Notícia corrigida às 11h45 de 11 de Dezembro: corrigido nome do Nobel da Fisiologia ou Medicina