Italianos e UE tentam antecipar efeitos da demissão de Monti

É temida a reacção dos mercados, mas também que das eleições antecipadas não saia uma maioria capaz de formar um governo estável

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As especulações sobre uma eventual candidatura de Monti são cada vez mais fortes ALBERTO PIZZOLI/AFP

Após a demissão do primeiro-ministro italiano Mario Monti, que recusou ver-se refém das chantagens de Silvio Berlusconi, receia-se a reacção dos mercados internacionais ao regresso da instabilidade política em Itália e os efeitos que isso poderá ter sobre a zona euro.

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Após a demissão do primeiro-ministro italiano Mario Monti, que recusou ver-se refém das chantagens de Silvio Berlusconi, receia-se a reacção dos mercados internacionais ao regresso da instabilidade política em Itália e os efeitos que isso poderá ter sobre a zona euro.

Banqueiros e analistas políticos realçam os receios dos resultados dessas eleições antecipadas. Podem não ter um vencedor claro, anunciando o regresso da Itália ao tempo das coligações efémeras e instáveis, com governos de curta duração. “É provável que o Parlamento seja fragmentado, o que conduzirá à formação de um governo de coligação fraco, com uma capacidade muito limitada para impor as necessárias reformas estruturais”, disse à Reuters Wolfango Piccoli, responsável pela Europa na empresa de investigação do risco político Eurasia Group.

O que as sondagens diziam, pelo menos até à semana passada, antes de Berlusconi se declarar candidato ao lugar de primeiro-ministro, era que o provável vencedor das eleições seria o Partido Democrata (centro-esquerda) de Pier Luigi Bersani, com mais de 30% dos votos. O movimento Cinco Estrelas, do cómico anti-establishment Beppe Grillo tinha cerca de 20% nos estudos de opinião. Há também um novo movimento centrista, fundado pelo administrador da Ferrari Luca Cordero di Montezemolo, que é um potencial veículo para Mario Monti, e que neste momento tem 2% das intenções de voto.

Claro que há sempre uma possibilidade, muito falada mas nunca concretizada: a de que Mario Monti resolva candidatar-se por algum partido político. Os jornais italianos especulam cada vez com mais convicção que ele o fará, embora ele no passado tenha dito que não o faria. Há movimentações entre os partidos do centro para criar uma plataforma política para ele se candidatar.

De qualquer forma, Monti disse que estaria disponível se, após as eleições, não fosse possível formar um governo estável. E muitos esperam que, mesmo que haja uma maioria segura, ele desempenhe um papel político importante – como Presidente da República, talvez, ou então como ministro das Finanças num governo pró-reformas. 

"Como um buraco na cabeça"
Há sempre que contar com o possível regresso de Silvio Berlusconi ao poder, capitalizando com o descontentamento dos italianos afectados pela crise. No entanto, nas sondagens anda com cerca de 15%, e é de esperar algumas deserções de figuras importantes que apoiavam Monti.

Foi a retirada do apoio a Monti pelo seu partido, o Povo da Liberdade (PdL), que levou o primeiro-ministro do Governo tecnocrático mas apoiado pelos três principais partidos italianos a bater com a porta – depois de Berlusconi anunciar que regressava à política, para se candidatar a primeiro-ministro.

“Os mercados certamente não vão apreciar este gesto de Berlusconi”, disse à Reuters um banqueiro italiano importante, que só falou sob a condição de permanecer não indentificado. “Um regresso de Berlusconi seria um desastre para as finanças de Itália e para a economia real.” 

Nas capitais europeias, as notícias da intenção de Berlusconi se candidatar e da demissão de Monti – que será concretizada quando for aprovado o Orçamento, o que deverá acontecer até ao Natal – foi recebida com sinais de alarme e palavras ásperas para “il Cavaliere”. O jornal alemão Süddeutsche Zeitung chamou-lhe o “espírito maligno” que regressa à cena, e o também alemão presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz não se poupou: “O regresso de Berlusconi pode ser uma ameaça para a Itália e para a Europa”, afirmou.

“A Itália precisa de um regresso de Berlusconi tanto como de um buraco na cabeça”, disse à Reuters Nicholas Spiro, da empresa Spiro Sovereign Strategy. “A maior ameaça doméstica para a Itália agora é o populismo”, considerou.

O Presidente da República, Giorgio Napolitano, quando lhe perguntaram sobre a reacção dos mercados, a partir desta segunda-feira, foi lacónico: “Os mercados? Veremos o que fazem."