Música como chama da (r)evolução: William Parker toca hoje na Culturgest

Contrabaixista e um dos mais influentes líderes espirituais da liberdade no jazz, apresenta-se a solo em Lisboa.

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Ao tocar, sente que a música funciona a nível superior, transcendente DR

Em conversa com Parker, dias antes de viajar para Lisboa, tentámos compreender como consegue manter-se tão activo e actual... "Toco em projectos diferentes, com características diversas. Este mês ainda vou fazer um concerto em que toco um instrumento africano de três cordas, tipo harpa, com a Miya Masaoka a tocar Koto e uma cantora. Na segunda parte faço uma peça para três saxofones baixo e bombo [tambor mais grave da bateria]." De formações em duo, trio, quarteto ou quinteto, dispara para formações alargadas, alegando que apesar de diferentes, em termos de som ou instrumentação, todas fazem parte da sua arte. 

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Em conversa com Parker, dias antes de viajar para Lisboa, tentámos compreender como consegue manter-se tão activo e actual... "Toco em projectos diferentes, com características diversas. Este mês ainda vou fazer um concerto em que toco um instrumento africano de três cordas, tipo harpa, com a Miya Masaoka a tocar Koto e uma cantora. Na segunda parte faço uma peça para três saxofones baixo e bombo [tambor mais grave da bateria]." De formações em duo, trio, quarteto ou quinteto, dispara para formações alargadas, alegando que apesar de diferentes, em termos de som ou instrumentação, todas fazem parte da sua arte. 

Ao crescer no Bronx, Nova Iorque, em bairros de habitação social, não sabia o que queria fazer, vivendo uma situação de stress no que dizia respeito ao futuro. Aos seis anos, o pai mostra-lhe a música de Duke Ellington, Coleman Hawkins, Ben Webster. "Não o sabia ainda, mas foi um impulso para me tornar músico. Apenas mais tarde, quando ouvi Love Supreme, do John Coltrane, ou Music is the Healing Force of the Universe, de Albert Ayler, comecei a ter uma ideia do que através da música podíamos elevar os espíritos e modificar o mundo." Procura, na altura, um envolvimento no movimento dos direitos cívicos, descobrindo que a melhor forma de o fazer era através do jazz. 

"Nessa altura, a decisão tornou-se clara, natural e fácil, e deu-me algo para fazer com o qual me sentia confortável." Ao tocar, sentia que a música funcionava a nível superior, transcendente, mas tinha dificuldade em perceber com que impacto poderia ajudar os outros. 

"Acabamos por nunca o saber, mas isso também não é importante, porque fazemos música porque o temos de fazer." O facto é que, ainda hoje, essa faceta transformadora representa, para Parker, o aspecto mais importante da música, particularmente relevante em dias de tumulto e desagregação social. 

"Nesta altura é importante que tenhamos música e arte que funcionem a nível superior, que não seja apenas entertainment. Mas as pessoas que estão no poder, e mesmo osmedia, procuram promover produtos de consumo imediato como a pop. Há uma ideia subjacente de que a música pode ser subversiva, causar a revolução, e "eles" não querem que as pessoas se sintam elevadas."

Alguma vez imaginou chegar tão longe? "Acho que não. Eu tinha medo do meu futuro. Algumas vezes é difícil compreender quem somos e onde estamos porque pura e simplesmente não queremos saber, queremos retirar o nosso ego da equação. Não, nunca imaginei que ia ser abençoado pela possibilidade de tocar música, viajar, conhecer pessoas e falar com elas para aprender e trocar ideias. É maravilhoso."