Django Django, os escoceses mais londrinos do pedaço

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Crescer em Edimburgo foi determinante para os Django Django: os membros da banda encontraram os seus pares entre a activa comunidade artística da cidade

São de Edimburgo, Escócia, mas vivem em Londres, o que poderia fazer-nos pensar que se mudaram para a capital inglesa à procura da fama, mas nada disso. "Não creio que hoje em dia Londres tenha a mesma centralidade que no passado em relação à música", diz-nos Tommy Grace, teclista e percussionista do grupo.

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São de Edimburgo, Escócia, mas vivem em Londres, o que poderia fazer-nos pensar que se mudaram para a capital inglesa à procura da fama, mas nada disso. "Não creio que hoje em dia Londres tenha a mesma centralidade que no passado em relação à música", diz-nos Tommy Grace, teclista e percussionista do grupo.

Os Django Django são quatro. Para além de Tommy, há Dave Maclean na bateria, Vinny Neff na voz e na guitarra e Jimmy Dixon no baixo. Conheceram-se todos na Escola de Belas Artes de Edimburgo. Dave e Tommy chegaram até a partilhar apartamento na Escócia, mas só se juntaram para criar música em Londres.

"Foi uma coincidência" diz Tommy. "Fomos todos parar a Londres por razões diferentes. O Vinny procurar trabalho como arquitecto, o Dave veio fazer um mestrado, o Jim precisava de mudar de ares e eu vim acompanhar a namorada que estava a fazer um mestrado em escultura. No fim, acabámos todos juntos, por ideia de Dave."

E este ano aconteceu o estouro, com a edição, no início do ano, do álbum homónimo de estreia, um tratado de como confeccionar música pop de dimensão física, não propriamente imune a descendências (Beach Boys, Can, Beta Band, Talking Heads, Franz Ferdinand ou LCD Soundsystem), mas sem se deixar imobilizar por elas.

Depois de vários singles, lançados desde 2009, o álbum deu-lhes uma mais do que merecida visibilidade, coroada com a nomeação para o importante Prémio Mercury que viria a ser arrecadado por outros participantes no festival Mexefest, os Alt-J. Os Django Django actuam, sábado, no Teatro Tivoli, pelas 23h05.

"Esperem canções onde a vertente mais percussiva da nossa música vem ao de cima, com versões mais extensas, em relação ao que se ouve no álbum", avisa Tommy. "Todos nós cantamos, todos nos tentamos divertir em palco e quando isso passa para a audiência acaba por ser muito divertido."

O que também possui primordial importância nos espectáculos do grupo é a dimensão visual, ou não fossem os Django Django formados em belas artes. "Sim, é evidente que isso acaba por estar presente na forma como nos apresentamos e na escolha das imagens, mas não é predominante. Não pensamos muito nisso."

É capaz de ser mesmo verdade. Não se vislumbra na atitude do grupo qualquer propósito ostentoso de afirmação. Apenas uma vontade jovial de partilhar canções com o público, como acontece com qualquer banda de adolescentes que acabou de aceder a um novo patamar de reconhecimento. "A imprensa puxa por esse lado de formação das belas artes, porque no passado existiram muitas figuras do rock que eram provenientes desse universo, mas no nosso caso é qualquer coisa que é vivida com descontracção. O mais importante de ter crescido em Edimburgo, naquele contexto artístico, foi ter encontrado pessoas com ideias semelhantes."

Seja como for, a verdade é que depois de terem terminado belas artes, Tommy e Dave chegaram a estar à frente de uma galeria, organizando exposições de artistas de quem gostavam e em que apostavam. "Não éramos grande galeristas", ri-se Tommy, "embora tenhamos aprendido a não depender de ninguém, o que acabou por ser muito importante na fase inicial da vida do grupo. O trabalho artístico pode ser muito solitário e nunca se sabe se o que estamos a fazer vale realmente a pena. Em grupo, com quatro cabeças a dialogar e a tentar resolver problemas, é diferente."

Pop e nada mais

Já o facto de virem da Escócia, um país onde a música pop é vivida com muito fervor, deixou traços. "Obviamente que todos nós crescemos a ouvir falar de bandas dos anos 1980 como os Orange Juice ou os Josef K", ri-se ele, quando lhe recordamos grupos que voltaram a ser comentados nos últimos anos, por servirem de referência a bandas também escocesas dos anos 2000 como os Franz Ferdinand, de quem também se diz admirador. Mas a principal influência escocesa, sublinha Tommy, foram os Beta Band, grupo já extinto, formado na segunda metade dos anos 1990, que também praticava um rock com alguma dimensão de fisicalidade, e grupos folk-rock dos anos 1960 como os também escoceses Incredible String Band ou os ingleses Fairport Convention. À superfície poderá parecer despropositado, mas existem realmente alguns elementos folk e outros devedores do psicadelismo, que podem ser assacados a esse período, na sonoridade do quarteto.

Na música do grupo, para além da dinâmica rítmica que é central, há ambiências psicadélicas conduzidas pelos sintetizadores e um toque funk geral que parece convidar à evasão. São canções pop mas com uma cadência minimalista que pode conduzir com facilidade à dança, marcadas pelo sentido preciso das linhas de baixo, pelas harmonias vocais e pela sensibilidade melódica, numa grande profusão de referências. "No espaço de uma só canção podemos ter linhas de baixo à rockabilly, teclados à rock progressivo, melodias à pop dos anos 60, ou ritmos que podem ter alguma coisa a ver com house de Chicago ou com hip-hop, e isso não tem de constituir uma contradição", justifica Tommy.

Mas essa multiplicidade de alusões não os faz perder de vista o essencial: as canções. "Não queremos ser uma daquelas bandas com problemas de identidade que apenas misturam uma série de modelos. Não. No nosso caso, assumimos que é pop aquilo que fazemos e nada mais." É verdade, mas mesmo assim não escapam aos paradoxos, como este: "Queremos ser uma banda com qualquer coisa de experimental, sem perder o lado acessível."

Ou este: apesar de, no início da conversa, Tommy ter reconhecido que Londres já não é a hegemónica capital da música na Europa, acaba por conceder que a mudança de Edimburgo para Londres foi relevante, nem que seja ao nível da forma como a música é vivenciada na cidade. "É quase impossível sair à rua em Londres e não ouvir música, seja num restaurante turco, numa loja paquistanesa ou num táxi guiado por alguém que gosta de dubstep ou de música africana. Essa diversidade é muito enriquecedora e acabou por influenciar-nos, sem dúvida."

Como outros grupos britânicos antes deles - The Clash, Primal Scream ou Massive Attack -, os Django Django acabam por coabitar num lugar onde fazem coincidir o que de mais efervescente se passa na cultura pop-rock com as bricolages da cultura negra personificadas nas músicas urbanas. Nesse sentido, Londres é o local ideal para se absorver tudo isso. "Sem dúvida", reconhece Tommy, acabando por se rir com a sua observação. "Afinal, sou bem capaz de ser mais londrino do que imagino."