Portugal tem três projectos de Niemeyer na gaveta
Um em Lisboa, outro no Algarve e outro nos Açores: o arquitecto brasileiro fez três projectos que nunca chegaram a concretizar-se.
Para Lisboa e ainda na década de 1990, Niemeyer desenhou – e ofereceu – o projecto da nova sede da Fundação Luso-Brasileira, que iria ser construída num terreno de 16 mil metros quadrados na Quinta dos Alfinetes, em Chelas. A obra chegou a começar mas os 7,5 milhões de euros necessários para a concluir nunca apareceram. Os trabalhos pararam em 1999 e os terrenos foram devolvidos à Câmara de Lisboa em 2004, em troca de 748 mil euros que a fundação usou para pagar as dívidas às construtoras.
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Para Lisboa e ainda na década de 1990, Niemeyer desenhou – e ofereceu – o projecto da nova sede da Fundação Luso-Brasileira, que iria ser construída num terreno de 16 mil metros quadrados na Quinta dos Alfinetes, em Chelas. A obra chegou a começar mas os 7,5 milhões de euros necessários para a concluir nunca apareceram. Os trabalhos pararam em 1999 e os terrenos foram devolvidos à Câmara de Lisboa em 2004, em troca de 748 mil euros que a fundação usou para pagar as dívidas às construtoras.
Em Dezembro de 2009, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, dizia ao PÚBLICO que a autarquia continuava "interessada em construir" o projecto, estando "à procura de entidades, nacionais e brasileiras” para estabelecer parcerias. No entanto, ainda nada aconteceu. António Costa foi nesta quinta-feira para o Brasil, onde vai participar na 1ª Mostra de Imobiliário de Portugal, e por isso não está disponível para prestar declarações. A Fundação Luso-Brasileira também não respondeu.
Há três anos, o terreno estava ao abandono e servia de local de deposição clandestina de entulhos. “O local necessita urgentemente de voltar a ser vedado”, reclamava na altura o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, Belarmino Silva. O PÚBLICO tentou contactar hoje o autarca, sem sucesso.
O projecto gizado por Niemeyer incluía, além do edifício-sede, um anfiteatro em forma de cilindro, uma zona comercial, espaços para exposições e biblioteca. No terreno existia um palácio cuja reconstrução devia ter sido feita pela fundação, para nele instalar um instituto de formação de quadros dos países lusófonos.
Museu nos Açores à espera que passe a crise
O projecto do Museu de Arte Contemporânea de Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, foi encomendado a Niemeyer pela ex-presidente da câmara municipal, Berta Cabral. Em Março de 2010, Berta Cabral deslocou-se ao Brasil para assinar o contrato de elaboração do projecto com "o maior arquitecto vivo no mundo". Mas a obra, que deveria ser inaugurada antes das eleições regionais de Outubro passado (na sequência das quais a derrotada líder do PSD se demitiu), ainda não arrancou. Deverá avançar “logo que a conjuntura financeira o permita”, justifica agora a autarquia presidida por José Manuel Boleiro.
"Mais do que uma obra de Ponta Delgada, é uma obra que vai colocar Ponta Delgada no mapa cultural mundial", integrando os Caminhos de Niemeyer, que ligam as obras do arquitecto em todo o mundo, salientou Berta Cabral quando apresentou o estudo prévio nos Açores. O futuro museu, a ser construído na Avenida do Mar, estava orçado em cerca de sete milhões de euros, dos quais 85% seriam assegurados por fundos europeus. Com uma área total de 4000 metros quadrados e desenvolvido em dois módulos ligados por uma passadeira, teria o nome do arquitecto brasileiro.
O Museu de Arte Contemporânea será o segundo do género na ilha de S. Miguel, onde foi construído o Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande. "Nenhuma região pode dizer que tem equipamentos culturais a mais", justificava Berta Cabral ao PÚBLICO. "Vão funcionar os dois e ficaremos todos mais ricos", declarou, rejeitando haver disputa de protagonismo com o governo regional, que arrancou com as obras do Centro numa antiga fábrica.
A única obra do arquitecto brasileiro construída em Portugal é o Casino Park Hotel, na Madeira, que inclui um casino e um centro de congressos. Foi encomendada em 1966 pela Sociedade de Investimentos Turísticos da Ilha da Madeira (ITI), propriedade da família António Xavier Barreto, tendo sido inaugurada a 3 de Outubro de 1976. Hoje pertence ao grupo Pestana que adquiriu ao governo madeirense a participação na ITI.
A partir dos desenhos de Niemeyer (1996), o projecto do Casino Park Hotel foi concretizado pelo arquitecto português Viana de Lima, seu amigo e também já falecido. “Ele seguiu a minha orientação inicial, mas fez muito bem. Foi muito bom”, declarou numa entrevista concedida, em 2001, a Cláudia Galhós, publicada no site NetParque.
O primeiro projecto para Portugal foi solicitado, em 1965, pela empresária Fernanda Pires da Silva (grupo Grão Pará) para o Empreendimento Turístico de Pena Furada, no Algarve, também em colaboração com Viana de Lima.