Morreu Dave Brubeck, o pianista que fez o jazz sorrir
Dave Brubeck (1920-2012), pianista que celebrizou Take five, morreu esta quarta-feira, na véspera de fazer 92 anos. Deixa-nos mais de 250 temas a ideia de que o jazz também pode ser alegre.
A melodia simples e saltitante do tema, composta e tocada pelo tom de veludo do saxofone de Paul Desmond, veio trazer uma nova alegria ao jazz de então, projectando Dave Brubeck e o seu grupo para o estrelato mundial. Ainda hoje o tema é facilmente reconhecido pelas mais diversas pessoas nos quatro cantos do mundo, tendo-se tornado um símbolo de um jazz alegre e descomplexado, profundamente "swingante".
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A melodia simples e saltitante do tema, composta e tocada pelo tom de veludo do saxofone de Paul Desmond, veio trazer uma nova alegria ao jazz de então, projectando Dave Brubeck e o seu grupo para o estrelato mundial. Ainda hoje o tema é facilmente reconhecido pelas mais diversas pessoas nos quatro cantos do mundo, tendo-se tornado um símbolo de um jazz alegre e descomplexado, profundamente "swingante".
Nascido em 1920, na Califórnia, Brubeck começou a aprender piano aos quatro anos. Alegando dificuldades de visão, evitava aprender a ler partituras, tendo desenvolvido a sua música de forma algo autodidacta. Ainda jovem, tocava nos bailes com uma banda local e planeava ser veterinário. No entanto, ao entrar na universidade, passou a tocar em clubes nocturnos para pagar os estudos e depressa percebeu que era isso que queria seguir como carreira.
Recrutado para a Segunda Guerra Mundial, Brubeck serviu sob o comando do célebre general Patton e tocou frequentemente para as tropas em eventos da Cruz Vermelha. Quando solicitado a formar uma banda entre os seus colegas militares, criou um grupo a que deu o nome The Wolfpack, um ensemble multi-racial, numa altura em que o Exército norte-americano era ainda fortemente marcado pela segregação. Forte opositor à discriminação, o músico viria mais tarde a actuar regularmente no Sul dos Estados Unidos, muitas vezes em clubes exclusivamente para negros.
Ao sair da tropa, já na faculdade, Brubeck quase foi expulso ao descobrirem que não sabia ler partituras, sendo, no entanto, defendido pelo seu enorme talento em contraponto e harmonia. Um talento realmente invulgar que fez das gravações de Take five, Blue rondo à la turk e muitos outros temas do seu repertório canções facilmente memorizáveis e de grande impacto melódico.
Como pianista, aplicou ao jazz os ensinamentos clássicos do seu mais influente professor, o mestre francês Darius Milhaud, criando a variação mais notável do que se viria a chamar west coast jazz. Ao longo da sua carreira tocou com muitos dos grandes, como Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Carmen McRae ou Gerry Mulligan, e o fenomenal sucesso do Dave Brubeck Quartet, o grupo que formou com Paul Desmond, Eugene Wright e Joe Morello, permitiu-lhe vender milhões de álbuns e tocar a sua música nos mais prestigiados palcos de todo o mundo.
Brubeck compôs mais de 250 temas e escreveu música para ballet, orquestras ou cerimónias religiosas. Da sua longa discografia, destacam-se Time Out, mas também Brubeck Time, Time Further Out, Jazz at Storyville e The Dave Brubeck Quartet at Carnegie Hall.
Considerado uma lenda viva pela Biblioteca do Congresso americano, Dave Brubeck foi o primeiro músico de jazz branco a aparecer na capa da revista Time, em 1954 (Louis Armstrong já o havia feito em 49) e um dos poucos a actuar para quatro Presidentes americanos.