Começa a revelar-se Django Unchained, o western “brutalmente hilariante” de Quentin Tarantino

O novo filme de Quentin Tarantino, com estreia portuguesa marcada para 24 de Janeiro, foi visto este fim-de-semana pela crítica norte-americana. Peter Bogdanovich classifica-o como "o mais curto longo western desde Rio Bravo".

Foto
Jamie Foxx, à esquerda, é o protagonista de Django Unchained, em que participa também Franco Nero, à direita, estrela de Django, filme de 1966 de Sergio Corbucci homenageado por Tarantino DR

Os críticos presentes este fim-de-semana na projecção de novo filme de Quentin Tarantino destacam a sua “mistura de violência extrema e humor espirituoso”. Recuámos três anos e falamos, afinal, de Inglorious Basterds, o épico de 2009 passado na Segunda Guerra Mundial? Não, estamos em 2012 e o novo de Tarantino, Django Unchained, não é um filme de guerra. A “mistura de violência extrema e humor espirituoso” que, dizem alguns críticos, pode colocar o realizador de Pulp Fiction na rota dos prémios da Academia, passa-se nos Estados Unidos do século XIX, no pós-Guerra Civil. É um western spaguetti protagonizado por Jamie Foxx, Christopher Waltz e Leonardo di Caprio.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os críticos presentes este fim-de-semana na projecção de novo filme de Quentin Tarantino destacam a sua “mistura de violência extrema e humor espirituoso”. Recuámos três anos e falamos, afinal, de Inglorious Basterds, o épico de 2009 passado na Segunda Guerra Mundial? Não, estamos em 2012 e o novo de Tarantino, Django Unchained, não é um filme de guerra. A “mistura de violência extrema e humor espirituoso” que, dizem alguns críticos, pode colocar o realizador de Pulp Fiction na rota dos prémios da Academia, passa-se nos Estados Unidos do século XIX, no pós-Guerra Civil. É um western spaguetti protagonizado por Jamie Foxx, Christopher Waltz e Leonardo di Caprio.

O realizador Peter Bogdanovich, discursando segunda-feira numa cerimónia de homenagem a Tarantino no Museum Of Modern Art, chamou-lhe, cita o New York Times, “o mais curto longo western desde Rio Bravo”. Acrescentou que será provavelmente o melhor filme do realizador. Bogdanovich vira as suas duas horas e quarenta e quatro minutos na noite de domingo, sentado ao lado do seu autor: “Ainda estou a tremer”.

Rodado entre Novembro de 2011 e Março de 2012, entre a Califórnia, o Wyoming, Louisiana e Nova Orleães, Django Unchained conta a história de um escravo, Django (Jamie Foxx), libertado por um dentista austríaco, King Schultz (Christopher Waltz, o caçador de judeus de Inglorious Basterds), que procura vingança do seu antigo senhor, Calvin Candie (Leonardo di Caprio).

O título homenageia Django, de Sérgio Corbucci, e, seguindo a tradição de Tarantino de prestar tributo aos seus heróis, Franco Nero, o protagonista do filme estreado em 1966, tem uma breve participação. Participam ainda Samuel L. Jackson, o actor que conta o maior número de colaborações com Tarantino, Don Johnston ou RZA, músico dos Wu Tang Clan que realizou recentemente O Homem dos Punhos de Aço, filme onde é notória a influência do autor de Kill Bill.

A estreia americana está marcada para 25 de Dezembro, mas, como se depreende, Django Unchained não será um Do Céu Caiu Uma Estrela, o filme de Frank Capra que é um clássico natalício há gerações. Em 2007, a dois anos de distância de Inglorious Basterds, quando estava ainda ocupado na promoção de À Prova de Morte, a sua homenagem à série B da década de 1970, partilhada com o Planeta Terror, de Robert Rodriguez, Tarantino manifestara, em entrevista ao Daily Telegraph, o desejo de “explorar um tema que, na verdade, ainda não foi abordado”: “Quero criar filmes que lidem com o horrível passado de escravatura da América, mas fazê-los como western spaghetti”, esclareceu, acrescentando que, sendo cinema de género, “enfrentarão tudo aquilo com que a América nunca se defrontou por sentir vergonha”. Cinco anos depois, o resultado é Django Unchained.

O Guardian destacava anteontem o frenesim crítico, via Twitter, que se seguiu às projecções do fim-de-semana. Jeff Goldsmith, do site theqandapodcast.com, realçou os “baldes de sangue” e o humor. “A questão racial é abordada, mas diria que de forma não muito controversa. O ritmo e os diálogos são óptimos – definitivamente candidato aos prémios”. O realizador Rian Johnson foi mais conciso: “Django é extraordinário. DiCaprio rebenta a escala”. O jornalista David Erlich, por sua vez, não teve dúvidas: “Uma comédia spaghetti brutalmente hilariante. Melhor filme americano de 2012”.

A homenagem ao spaghetti western não surge apenas no título e na participação de Franco Nero. Naturalmente, dada a importância que as bandas sonoras sempre tiveram no cinema de Tarantino, a música reflecte também a natureza de Django Unchained. E, pela primeira vez, o realizador encomendou música. Assim, entre canções seleccionadas por Tarantino da sua colecção de vinil, com o som da agulha a cair na estria e os ruídos típicos dos velhos discos incluídos, encontramos originais de Ennio Morricone, o compositor que definiu o som dos western spaghetti, e de nomes do hip hop como Rick Ross, John Legend e Anthony Hamilton. Frank Ocean também compôs uma canção para o filme, mas foi recusada por Tarantino. Em comunicado, o realizador afirmou que a estrela em ascensão do R&B, autor este ano do celebrado Channel Orange, criou “uma balada fantástica, verdadeiramente adorável e poética, sob todos os aspectos, mas simplesmente não havia uma cena para ela”.