Qualquer semelhança entre a crise do Sporting e a de Portugal é pura coincidência
Sempre que anunciam um novo desaire as culpas vão direitinhas para uma equipa de três elementos, que, em grande parte das vezes, é mais um bode expiatório que outra coisa
Nos últimos tempos, tenho ouvido várias pessoas a comparar a situação de crise actual do Sporting Clube de Portugal à crise vivida pelo nosso próprio país, Portugal, dizendo mesmo que as parecenças entre as situações de ambos são de tal ordem que, inclusivamente, uma pessoa que comece a ouvir uma conversa a meio sobre uma delas não será capaz, à partida, de identificar de qual dos temas se está a falar.
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Nos últimos tempos, tenho ouvido várias pessoas a comparar a situação de crise actual do Sporting Clube de Portugal à crise vivida pelo nosso próprio país, Portugal, dizendo mesmo que as parecenças entre as situações de ambos são de tal ordem que, inclusivamente, uma pessoa que comece a ouvir uma conversa a meio sobre uma delas não será capaz, à partida, de identificar de qual dos temas se está a falar.
Ora, parece-me que tudo isto é um exagero pegado. Tanto o Sporting como Portugal vivem actualmente períodos bastante conturbados. Ambos já tiveram tempos na sua história em que, ao contrário daquilo que hoje vemos, foram grandes conquistadores (talvez mais um do que o outro, mas isso não interessa nada), mas daí a que a situação de um seja confundível com a do outro, só por maldade alguém o poderá pensar.
Quer dizer, tirando o facto de, neste momento, tanto um como o outro, estarem a ser dirigidos por quem não percebe nada do assunto mas que, teimosamente, continua a aplicar a mesma receita, apesar de toda a gente (incluindo quem os elegeu) já ter percebido que assim não se vai a lado nenhum. Ah, e que não se demitem por estarem convencidos do excelente desempenho que estão a ter, claro.
Pronto, e tirando também o facto de estarem ambos falidos e nas mãos de bancos. E que, com o desespero provocado pelas contas ruinosas, terem ido os dois procurar investidores à China. E que até, para terem direito aos pagamentos do organismo europeu que os tutela, tiveram que se endividar ainda mais. E que, apesar disso, tanto um como o outro tiveram um desempenho desastroso nos encontros europeus que tiveram. Agora, de resto, o que é que uma tem que ver com a outra? Nada.
Pronto, já agora tira-se também o facto de que, sempre que anunciam um novo desaire, as culpas vão direitinhas para uma equipa de três elementos, que, em grande parte das vezes, é mais um bode expiatório que outra coisa. E que, em ambos os casos, lá aparece um pobre coitado em frente às câmaras a dizer: “Temos que levantar a cabeça. Demos bons indicadores de estarmos a melhorar e queremos mostrar a todos que estamos numa fase ascendente. E pedimos que acreditem no nosso trabalho…”
Ah, e esquecendo que, talvez (talvez), tanto num caso como no outro, depois de investirem na formação de novos profissionais, em vez de os rentabilizarem lá dentro, lhes abrem a porta de saída porque não sabem tirar proveito deles e apenas pensam no lucro imediato, dando a outros a ganhar imenso com os conhecimentos que pagaram para esses profissionais possuírem. Já para não falar nos avultados investimentos que ambos fizeram em activos que, apesar de caríssimos, pouco ou nenhum proveito lhes deram para além de contas para pagar no futuro.
E já que aqui estamos, tirando também o facto de que os locais onde se reúnem estarem cada vez mais vazios por dentro e mais cheios por fora, com os adeptos de ambos à espera do lado de fora para atirarem pedras e insultos em vez de aplausos e elogios.
De resto, sinceramente, como qualquer pessoa vê, uma coisa não tem mesmo nada que ver com a outra. É que nada de nada. Agora uma coisa é certa. Apesar de a situação de um ser completamente diferente da do outro, a solução para os problemas de cada um (ou pelo menos a solução para os maiores, vá) está mesmo à vista no outro. Deixo só aqui dois exemplos para se perceber o potencial da coisa. O Sporting podia passar a transportar os seus jogadores para os jogos em carros de alta cilindrada. Toda a gente sabe que é mais difícil acertar com pedras em carros rápidos e baixinhos do que em autocarros. E a Assembleia da República podia mandar instalar bancos de cores aleatórias no hemiciclo. Dava logo a ideia de que estava sempre cheio de ministros e deputados, todos muito preocupados com o estado do país e a trabalhar para o melhorar.