O realizador de “Kids” disponibiliza filme em exclusivo na Internet

"Marfa Girl": muito sexo e nudez, magreza do enredo e das personagens, segundo alguma crítica

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Larry Clark regressa ao cinema sete anos depois de "Wassup Rockers". Mas o vencedor do Festival de Roma, "Marfa Girl", foi lançado em Novembro em exclusivo na Internet.

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Larry Clark regressa ao cinema sete anos depois de "Wassup Rockers". Mas o vencedor do Festival de Roma, "Marfa Girl", foi lançado em Novembro em exclusivo na Internet.

Marfa é uma pequena cidade no Texas. Entre pouco mais de 1800 pessoas, ali convivem brancos, mexicanos e uma comunidade artística irreverente. Música, drogas e sexo adolescente cedo se tornam demasiado grandes para um pequeno pedaço de deserto. Em "Marfa Girl", Adam é um jovem sem rumo prestes a comemorar 16 anos. Apesar de ter uma namorada, Inez, envolve-se com a vizinha Donna, de 23 anos, que o seduz. As relações carnais adensam um jogo cada vez mais perigoso quando um polícia, doente mental, constrói uma relação obsessiva por Adam, pela sua namorada e pela sua mãe.

O filme venceu este mês no Festival de Roma o prémio de melhor filme, mas a crítica não foi consensual. A "Variety" elogiou a fotografia de David Newbert, mas queixa-se que “o sexo e a nudez são tão férteis como a magreza do enredo e das personagens “. A imprensa italiana fala de um filme mais elaborado no conteúdo e no plano narrativo do que os que lhe antecedem, mas que apesar da sua “maior estrutura” “não arrisca” e não esconde a “superficialidade puramente fotográfica de Clark”. Já o inglês "Guardian" considera que aqueles que apreciaram o trabalho anterior do realizador vão encontrar em "Marfa Girl" muito por onde se deliciar.

Um filme para a Internet

A sala que recebeu o filme em Roma foi a primeira e última de todo o circuito comercial. "Marfa Girl" abandonou as salas dos cinemas para uma bem maior, a Internet. “Eu queria fazer um filme para a Internet. Decidi livrar-me dos intermediários, dos produtores e afins. De qualquer maneira, são todos uns bandidos. Eu nunca fui pago pelos meus filmes. A Internet é o momento, as pessoas fazem um vídeo e ele obtém milhares de visitas, por isso, que se lixe , vamos a isso”, disse à revista "Filmmaker" deste mês.

"Marfa Girl" está disponível no site oficial do realizador com legendas em francês e italiano por cerca de 4,60 euros. A opção de transmitir o filme exclusivamente para a Internet não estará desligada da dificuldade que Clark tem tido em convencer produtoras e  distribuidoras a interessar-se pelos seus filmes.

"Ken Park" (2002) não teve distribuição nos Estados Unidos. Uma cena erótica de auto-asfixia continuou o choque que Clark criou nas audiências e nos críticos, o "Washington Post" descreveu o filme como uma “virtual pornografia infantil disfarçada de documentário de advertência”.

O vício da adolescência

Larry Clark nunca fez questão de passar despercebido. O livro "Tulsa" (cidade onde nasceu), que escreveu depois de servir na Guerra do Vietname, já continha fotos a preto e branco que documentavam os seus amigos a drogarem-se. Desde então, Clark e a controvérsia cresceram lado a lado. Em "Teenage Lust" de 1979, segundo livro, apresentou uma “autobiografia artística”, explícita. As fotos de família, a permanência fugaz em Nova Iorque contrastam com as imagens de jovens prostitutos em Time Square. Em "Teenage Lust" está o tema de que anteciparia a sua carreira enquanto realizador. Clark nunca mais largou a dúvida, a vulnerabilidade e o risco dos corpos magros e sedentos da adolescência.

A polémica disseminou-se em 1995 pelas salas com o primeiro filme, "Kids". Contava um dia da vida de um grupo de adolescentes que há muito tinham perdido a inocência. Em "Kids", o skateboard e o hip-hop eram pequenos barulhos comparados com o álcool, as drogas, o sexo e o vírus do HIV que acordavam a cidade. O "New York Times" descreveu o filme como “uma chamada de atenção para o mundo”. Para o "Chicago Sun – Times" “é o género de filme que precisa de ser discutido depois de ser visto”.

"Marfa Girl" surge 17 anos depois desse primeiro filme e Larry Clark quer fazer mais dois filmes para completar uma trilogia. Pretende voltar a ser feliz na cidade de Marfa (onde foi rodado "O Gigante", com James Dean) e planeia manter o elenco de jovens actores profissionais e amadores. Com "Another Day in Paradise", de 1998, voltou a centrar a droga como combustão numa história que levava Melanie Griffith e James Woods à violência e ao homicídio. Em 2001, com "Bully", escolheu de novo a adolescência baseado numa história verídica de um grupo de adolescentes que planeou a morte de um jovem que os agredia. O festival de Veneza nomeou Clark para o Leão de Ouro em 2001.

Ao longo da carreira, sempre traçou uma fronteira quase tão polémica como a que divide o México e os Estados Unidos, a 110 km de Marfa. Em entrevista ao site de cinema independente Indiewire deste mês, diz sentir-se confortável ao “fazer exactamente o filme que quer fazer".  "Eu sou destemido e acho que estou mais destemido (…) Não há mais medos.”