Uma “Máquina Romântica” numa "roulotte" pelo Vale do Ave

Paisagem industrial do Vale do Ave fotografada por uma "gruta itinerante". Exposição até 9 de Dezembro, na Fábrica ASA, em Guimarães

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Aquela "roulotte", com vegetação de um dos lados, não é um presépio, como alguns perguntam. É uma “Máquina Romântica”, um projecto que começou pela instalação de uma máquina fotográfica, envolta em vegetação, dentro de uma "roulotte", que circulou pelo vale do Ave a registar a paisagem industrial "a partir de uma gruta". 

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Aquela "roulotte", com vegetação de um dos lados, não é um presépio, como alguns perguntam. É uma “Máquina Romântica”, um projecto que começou pela instalação de uma máquina fotográfica, envolta em vegetação, dentro de uma "roulotte", que circulou pelo vale do Ave a registar a paisagem industrial "a partir de uma gruta". 

 

Para este trabalho, Pedro Bandeira, Sofia Santos e Joana Nascimento, a equipa responsável pela edição de 2012 desta iniciativa, recorreu a uma máquina Rolleiflex SL66, médio formato, que andou camuflada durante todo o projecto. 

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Pedro Bandeira explica, ao P3, a ideia na base deste projecto: “A gruta foi a primeira casa do homem e, nas nossas imagens, olhamos tudo de dentro da gruta, como se fôssemos protegidos por ela. A própria 'roulotte' é uma casa e, enquanto estivemos a trabalhar, observamos tudo de dentro dessa casa”, afirma. 

 

O processo não foi fácil: a "roulotte" tinha que se deslocar muito devagar e gerava facilmente filas de trânsito. “Muitas vezes, fomos forçados a parar para deixar passar os carros”, explica Pedro Bandeira.

 

Campo versus cidade

Para o arquitecto, o campo e a cidade não estão, propriamente, separados. “Existe uma ideia errada de que há um espaço ordenado, que é a cidade, e um espaço idílico, que é o campo. O território não é assim, não há uma separação entre os dois espaços. Este trabalho pretende reflectir acerca da representação fotográfica e do ideal romântico da paisagem pitoresca”, afirma. De alguma forma, prossegue, pretende-se “domesticar a paisagem”, através do enquadramento que é dado às imagens.

 

Esta região encerra, segundo Pedro Bandeira, um paradoxo: o rio dá vida à paisagem idílica do campo, por um lado; por outro, ajuda a gerar a electricidade que põe a indústria a trabalhar. Na opinião do arquitecto, a recompensa não é a melhor: “Por fim, o rio acaba por servir de ‘esgoto’, recebendo os detritos das fábricas".

 

A escolha de uma paisagem industrial é, segundo o arquitecto, uma forma de “conferir estética a uma paisagem que não é encarada como bela”.

 

É possível ver as dez fotografias seleccionadas deste projecto, bem como a própria roulote, até 9 de Dezembro, na Fábrica ASA, em Guimarães, no âmbito da exposição “Edifícios e Vestígios”, que se insere-se no ciclo “Escalas e Territórios", do programa de Arte e Arquitectura da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.

 

A primeira edição deste projecto foi realizada no Porto e consistia numa máquina fotográfica colocada numa espécie de “caixa de sapatos em cima de um tripé”, precisamente com a mesma intenção de captar imagens como se os autores estivessem numa gruta. Só que, neste caso, o alvo eram os edifícios contemporâneos do Porto.