Emigrar hoje ou há 30 anos com as mesmas motivações
"Tanto o meu pai como eu sentimos que o que a vida nos estava a oferecer em Portugal estava muito aquém do que queríamos para nós próprios e procurámos uma saída"
Celso e o pai decidiram emigrar para a Austrália para reagir à crise em Portugal. Um partiu há dois anos, o outro há 30, mas na origem de ambas as decisões estiveram os mesmos motivos. “Tanto o meu pai como eu sentimos que o que a vida nos estava a oferecer em Portugal estava muito aquém do que queríamos para nós próprios e procurámos uma saída”, conta Celso Paiva, que há dois anos seguiu as passadas do pai e optou por (re)emigrar para a Austrália.
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Celso e o pai decidiram emigrar para a Austrália para reagir à crise em Portugal. Um partiu há dois anos, o outro há 30, mas na origem de ambas as decisões estiveram os mesmos motivos. “Tanto o meu pai como eu sentimos que o que a vida nos estava a oferecer em Portugal estava muito aquém do que queríamos para nós próprios e procurámos uma saída”, conta Celso Paiva, que há dois anos seguiu as passadas do pai e optou por (re)emigrar para a Austrália.
Em 1985, tinha Celso dois anos, emigrou por opção dos pais. Hoje é emigrante por vontade própria e não está arrependido, embora admita que a satisfação é sobretudo profissional e que, se houvesse oportunidades de carreira em Portugal, “não teria motivos para sair”.
Ana Paiva, a mãe de Celso, conta que a decisão que tomou com o marido, José, em 1985, com o FMI em Portugal, ocorreu numa época “só um bocadinho melhor” do que a actual. “O desemprego actualmente atinge (...) pessoas formadas ou não”, enquanto na crise de 1985 “qualquer pessoa que tivesse um curso médio tinha emprego”, exemplifica. Ainda assim, e apesar de na altura não estarem desempregados, Ana e José decidiram que “as coisas estavam tão más” que a melhor opção era emigrar. “Deixámos empregos, casa para pagar e fomos”, conta, lembrando que o marido foi trabalhar para a empresa do irmão, que já lá estava desde os anos 1960, e Ana arranjou emprego como intérprete num hospital.
Regressaram ao fim de dez anos, com mais uma filha. Tal como os pais 30 anos antes, Celso não batera no fundo, não estava desempregado, mas as perspectivas não eram as melhores: “Era o mais novo de sete engenheiros, o único com contrato a prazo, estava a ver o trabalho a diminuir”, recorda. A ideia que tinha de um dia experimentar trabalhar no estrangeiro foi acelerada e decidiu partir mais cedo do que esperava. “Acabou por ser numa altura óptima. Passados seis meses, a situação em Portugal ficou mesmo muito pior”, com a entrada da ‘troika’ no país.
Oportunidades na Austrália
Engenheiro civil, Celso demorou dois meses a conseguir trabalho e arranjou emprego no sector da construção de caminhos de ferro, que era a área em que já trabalhava em Portugal. “As oportunidades [na Austrália] são incomparáveis ao que existe em Portugal”, diz o emigrante, lembrando que um país “com uma economia muito forte e em pleno desenvolvimento” é óptimo para quem trabalha no sector da construção.
O país que o acolheu contrasta com a crise no país que deixou e isso nota-se até na sua caixa de correio eletrónico: “Desde que cá estou, todos os meses recebo emails de pessoas a perguntar sobre oportunidades de trabalho, como é o mercado de trabalho, como é o processo, quanto dinheiro se gasta”.
E também os seus planos — que previam voltar para Portugal ao fim de três ou quatro anos — são actualizados de cada vez que viaja até Lisboa. “Regresso sempre com mais certeza de que não será só três ou quatro anos. Infelizmente, não há grandes hipóteses de voltar e encontrar trabalho” em Portugal.
Já os pais, hoje na casa dos 50 anos, nunca pensaram “que fosse necessário voltar a emigrar ao fim de tantos anos”, mas é isso que vai acontecer. O pai, José Paiva, tem viagem marcada para a Austrália já em Janeiro e, tal como fez há 30 anos, vai trabalhar para a empresa do irmão que lá está desde os anos 1970, enquanto Ana quer ficar para acompanhar os pais, na casa dos 80 anos.
José não está desempregado, trabalha numa empresa de fiscalização de obras e, como diz a mulher, a família tem tido sempre “uma vida razoável”, mas actualmente está colocado a 450 quilómetros de casa e não recebe ajudas de custo para suportar a distância. Embora garanta que a família não é “de lamúrias”, lamenta a situação: “Podíamos estar a pôr de lado algum dinheiro para a reforma e estamos a gastar aquele que não queríamos”.
Para já, e porque são gente “terra a terra”, os Paiva vão fazendo planos de reuniões familiares — no Verão na Austrália, no Natal em Lisboa — e aproveitam aquilo que a tecnologia lhes dá: “Temos Skype, temos Facebook. Quando emigrei, em 85, telefonava uma vez por semana e escrevia todas as semanas”, lembra Ana. “Apesar de os quilómetros serem os mesmos, sentimo-nos hoje muito mais perto”.