Ferreira do Amaral: "Troika não conhece estrutura da economia portuguesa"
Economista defende que programa de ajustamento a que Portugal está a ser sujeito não vai funcionar
A falar na sessão de apresentação dos resultados do Budget Watch – um relatório elaborado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e a consultora Deloitte –, o professor do ISEG defendeu que o facto de tanto o Governo como a troika terem ficado surpreendidos com a subida do desemprego é "inadmissível" e uma prova de falta de conhecimento da realidade económica portuguesa. "Isto contrasta com o que aconteceu nas intervenções do FMI em 1978 e 1983", disse, assinalando ainda que o Fundo não criou reflexão sobre como fazer estes programas em países que não têm moeda própria, como é o caso actual de Portugal.
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A falar na sessão de apresentação dos resultados do Budget Watch – um relatório elaborado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e a consultora Deloitte –, o professor do ISEG defendeu que o facto de tanto o Governo como a troika terem ficado surpreendidos com a subida do desemprego é "inadmissível" e uma prova de falta de conhecimento da realidade económica portuguesa. "Isto contrasta com o que aconteceu nas intervenções do FMI em 1978 e 1983", disse, assinalando ainda que o Fundo não criou reflexão sobre como fazer estes programas em países que não têm moeda própria, como é o caso actual de Portugal.
O problema, diz o economista, é que o programa negociado entre as autoridades portuguesas e a troika "falha o essencial, que é o facto de o nosso problema ser económico". "Tivemos uma desindustrialização muito rápida que representa um problema estrutural grave." João Ferreira do Amaral diz que o actual programa de ajustamento, tal como o processo de adesão ao euro, não levaram em conta esta questão.
Por isso, João Ferreira do Amaral mostrou-se bastante pessimista em relação aos resultados económicos e orçamentais futuros, tanto no curto prazo como no médio e longo prazo. "Não acredito no OE 2013, nem que seja possível efectuar um corte de despesa de 4000 milhões de euros de uma forma que seja socialmente aceite. E estes programas não funcionam se não forem socialmente aceites", disse.
Ao tentar delinear uma saída possível para a economia portuguesa, o professor do ISEG defendeu uma política económica totalmente virada para os incentivos (fiscais e outros) ao sector de bens transaccionáveis, mesmo que isso implique desafiar as regras comunitárias. Além disso, o economista considera essencial corrigir as metas do défice (principalmente para 2014). No entanto, para João Ferreira do Amaral, mesmo seguindo estas receitas, a resolução da crise poderá não ser possível sem recorrer a uma desvalorização cambial, ou seja, saindo do euro.