"Era mais fácil", dizem portugueses que chegaram a Londres nos anos 1980
Nos anos 80 "era mais fácil arranjar trabalho e casa. Agora é mais difícil juntar dinheiro, quem vem é para viver, não para poupar"
Quem emigrou para Londres há mais de 20 anos beneficiou de maior margem para poupar do que aqueles que chegam agora, garantem Fernanda e Eduardo Gonçalves, que vivem em Londres desde os anos 1980. "Antes, disseram à agência Lusa, "era mais fácil arranjar trabalho e casa", mas "agora é mais difícil juntar dinheiro, quem vem é para viver, não para poupar".
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Quem emigrou para Londres há mais de 20 anos beneficiou de maior margem para poupar do que aqueles que chegam agora, garantem Fernanda e Eduardo Gonçalves, que vivem em Londres desde os anos 1980. "Antes, disseram à agência Lusa, "era mais fácil arranjar trabalho e casa", mas "agora é mais difícil juntar dinheiro, quem vem é para viver, não para poupar".
O diagnóstico é feito pelos proprietários do bar e restaurante Britannia, no sul da capital britânica, onde batem à porta muitos jovens portugueses, muitos dos quais licenciados, a pedir emprego. As despesas com alojamento e transportes são elevadas e, porque não têm experiência de trabalho, sujeitam-se a ser pagos pela tarifa mais baixa, explicam.
O cenário é diferente daquele que Eduardo Gonçalves encontrou 1987, quando deixou Mirandela, então com 24 anos, para iniciar uma carreira de mais de uma década nas limpezas. Um ordenado de uma semana, garante, era superior ao salário mensal que recebia na construção civil, e "trabalhar na limpeza dava mais do que o ordenado de um advogado em Portugal", recorda.
Fernanda, de Macedo de Cavaleiros, tinha chegado no ano anterior, contratada aos 21 anos para tomar conta de crianças. Contudo, em poucos meses também percebeu que tinha a ganhar em dedicar-se às limpezas. Durante muito tempo trabalhou clandestinamente, numa altura em que o direito de circulação de pessoas e trabalhadores era um direito pouco adquirido.
A recompensa chegou cedo: uma casa construída no distrito de Bragança a um custo de cerca de 150 mil euros entre 1993 e 1996, algo que, garante, "se fosse hoje não tinha conseguido fazer". Fernanda Gonçalves recorda-se de ouvir falar do FMI em Portugal, mas "não como agora", sobretudo porque na altura não existia a mesma facilidade de acesso à informação. "Não havia crise na mesa, mas havia na carteira", lembra, para explicar a própria situação, a de uma jovem que até tinha o 12.º ano mas que "não tinha cunhas" para encontrar um emprego.
Em Londres, encontrou uma comunidade que se ajudava a procurar trabalho e até a emprestar dinheiro, atitudes diferentes da desunião e conflitos que hoje imperam, considera. Mesmo com negócio próprio, o casal ainda hoje mantém laços com o mundo das limpezas, Eduardo com o antigo patrão a quem ainda socorre quando é preciso e Fernanda porque estima uma cliente idosa que a trata como filha. Orgulham-se de ver portugueses em melhores profissões, como médicos ou em serviços públicos, mas não escondem a nostalgia do país de homens de fato e chapéu que conheceram há mais de 20 anos.
E ainda hoje professam o lema que os guiou desde Portugal e que identificam com o espírito inglês: "humildade e educação".