Jornalistas em Gaza: entre um furo jornalístico e a morte

Desde o início dos últimos confrontos em Gaza já morreram três jornalistas palestinianos. Outros, muitos deles a trabalhar para órgãos internacionais, arriscam-se a perder a vida por uma história. Para seguir o relato, agarre-se ao Twitter.

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Alguns dos mísseis disparados pelo exército israelita atingiram a zona onde os jornalistas estrangeiros estão alojados Ahmed Jadallah/REUTERS

Muitas vezes estes jornalistas acabam por ficar juntos, mesmo que trabalhem para órgãos de comunicação social que são concorrentes directos. É frequente ficarem nos mesmos hotéis.

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Muitas vezes estes jornalistas acabam por ficar juntos, mesmo que trabalhem para órgãos de comunicação social que são concorrentes directos. É frequente ficarem nos mesmos hotéis.

E é a partir do quarto de cada um desses hotéis que é feito o relato de algumas das ofensivas militares das partes em confronto. Inclusive o caso dos ataques que, se não são dirigidos propositadamente aos jornalistas, parecem - denunciam.

Pelo menos foi isso que a repórter do Washington Post Abigail Hauslohner deu a entender quando mandou uma mensagem pública na rede social Twitter ao porta-voz das Forças de Defesa israelitas, que dizia: "A sério, se o Hamas está no quarto 208 (eu estou no 209), avisem-me já".

Ainda no campo da ironia, Hauslohner escreveu uma mensagem, novamente dirigida ao porta-voz das Forças de Defesa israelitas, dizendo "nada como uma bela ameaça antes de ir para a cama". "Um aviso para os repórteres em Gaza: afastem-se do Hamas, senão eles usam-vos como escudo humano", conclui.


Mais literal, a repórter do diário britânico The Telegraph em Gaza, Phoebe Greenwood, descreve uma "enorme explosão perto do hotel em Gaza [que] partiu as janelas do edifício. Foi mesmo muito perto. Ainda não há cessar-fogo".

Mais literal, a repórter da agência noticiosa francesa AFP em Gaza, Sara Hussein, descreve uma "explosão ENORME. Estou bem, mas foi muito forte, abanou-nos muito. Ouvi vidros a partirem-se".

O jornalista Paul Danahar, que trabalha para a BBC, reagiu à mesma explosão ouvida pela repórter do Telegraph. "Fui lá fora para ver o que é que rebentou tão perto dos hotéis em Gaza que têm vários jornalistas. Mas não consegui ver nada, são 2h00 e por isso está escuro".

A correspodente do Telegraph, Phoebe Greendwood, respondeu-lhe: "Vai para dentro!"

Outro repórter da BBC, Jon Donnison, estava em transmissão para a estação de rádio daquela cadeia britânica quando Israel lançou ataques aéreos a cerca de um quilómetro de distância. A transmissão foi interrompida, com a locutora que conduzia a emissão no Reino Unido a dizer: "Achamos que é melhor protegeres-te, mantém-te em segurança e já voltamos a entrar em contacto".

A preocupação da locutora da BBC era fundamentada. A prova é o número de jornalistas mortos durante os conflitos da última semana: um total de três, todos palestinianos. Segundo a Associated Press (AP), as autoridades israelitas afirmaram que a morte destes jornalistas foi intencional, acusando-os de terem ligações com militantes do Hamas.

Dois dos três jornalistas mortos eram repórteres de imagem da Al Aqsa TV, a estação televisiva oficial do Hamas. Foram atigindos por artilharia israelita enquanto se deslocavam de carro, após terem feito um serviço no hospital de Shifa, em Gaza, conforme avançou à AP o director daquela estação televisiva.

O outro jornalista palestiniano, que trabalhava para a rádio Al Quds, também foi morto enquando estava num carro.

Em declarações à AP, a tenente-coronel Avital Leibovich, porta-voz do exército israelita, explicou, sem aprofundar, que todos "os alvos são pessoas que têm um papel relevante em actividades terroristas".

Som de uma reportagem debaixo de bombardeamentos em Gaza