Estado anda há 20 anos a tentar vender a TAP

O facto de o actual Governo não ter cumprido o calendário que tinha previsto para vender a transportadora aérea não gerou surpresa. Afinal, desde 1991 que a privatização está prometida. E parece que desta é de vez.

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Desde então, e apesar de a venda da companhia ter estado sempre na agenda de sucessivos governos, houve muitos avanços e recuos. Até que, volvidas duas décadas, a meta parece agora estar mais próxima, faltando pouco mais de 15 dias para que o único candidato à compra, o milionário colombo-brasileiro Germán Efromovich, apresente a proposta final para ficar com a empresa.

Muitos supostos candidatos ficaram pelo caminho. Quando a privatização começou a aquecer, ainda na década de 1990, chegou-se a especular sobre o interesse de gigantes como a Air France e a Iberia (que entretanto se fundiram com a KLM e a British Airways, respectivamente).

Muitos investidores nacionais, como o Grupo Espírito Santo (GES), e empresários, como o macaense Stanley Ho, também chegaram a ser referidos como potenciais compradores da TAP. E houve inclusivamente uma companhia, a Swissair, que selou um acordo com o Governo, em 1997.

A parceria que previa que o grupo suíço ficasse com uma fatia de 20% na primeira fase da venda acabou por cair por terra em 2001, fruto da situação financeira débil em que a Swissair se encontrava e que acabou por resultar na sua falência.

No início do milénio, já com o gestor brasileiro Fernando Pinto aos comandos da companhia, a privatização manteve-se acesa. No Governo de Santana Lopes começou a ganhar força a ideia de vender a empresa em conjunto com a Portugália, que era detida pelo GES e que acabaria por ser comprada pela TAP em 2006.

Já com o PS a governar o país e José Sócrates como primeiro-ministro, a intenção de vender o activo tornou-se mais premente, tendo a transportadora sido integrada na lista de privatizações a concluir até 2007. Mas, mais uma vez, não passou da intenção, e o executivo acabou por se ver obrigado a adiar a venda. As condições não estavam reunidas, justificou na altura.

Desde então, a TAP não voltou a sair do universo de empresas a vender pelo Estado, mas não houve desenvolvimentos importantes nesse sentido. Até que, forçado pelo pedido de ajuda externa e pelo memorando de entendimento assinado com a troika, o actual Governo colocou o pé no acelerador.

Apesar de não ter cumprido o calendário que estava previsto, o que levará muito provavelmente à derrapagem da conclusão da venda para 2013, o executivo já tem o processo numa fase muito avançada. No entanto, ficou a sensação de que a transportadora aérea não é afinal tão apetecível como se pensava.

Desde o início deste ano foram surgindo rumores em catadupa sobre eventuais interessados. Falou-se na Qatar Airways, no grupo IAG (que junta a British Airways e a Iberia), na Lutfhansa, nas brasileiras TAM (que se fundiu com a chilena TAM) e Gol e até na portuguesa Euroatlantic. Mas, quando chegou o dia de apresentar ofertas preliminares de compra, a 14 de Setembro, apenas um investidor avançou.

Trata-se de Germán Efromovich, o milionário colombo-brasileiro que já controla duas companhias de aviação (a Avianca Brasil e o grupo Avianca, que inclui a colombiana Avianca e a peruana Taca). O Governo chegou a ser abordado pelo grupo IAG e pela Alitalia, mas nenhuma apresentou propostas não vinculativas. 

Efromovich terá de apresentar a oferta final até 7 de Dezembro. Tudo parece encaminhado para que, finalmente, o objectivo de há 20 anos seja cumprido. Mas o Governo já fez saber que, caso a proposta do único candidato à companhia não satisfaça, ainda poderá recuar na decisão e deixar a TAP no Estado por mais algum tempo.