Ainda na barriga da mãe, os bebés já bocejam
Equipa britânica confirma que bocejar faz parte da nossa vida desde muito cedo e pode ser importante para avaliar a saúde do feto.
Em traços gerais, estas são as principais conclusões do estudo de uma equipa britânica, publicado na revista PLoS ONE, que assim pretende pôr um ponto final na questão. Os investigadores têm-se dividido sobre os bocejos dos fetos: se uns já sugeriram que existem, outros dizem que não passam de um simples abrir da boca.
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Em traços gerais, estas são as principais conclusões do estudo de uma equipa britânica, publicado na revista PLoS ONE, que assim pretende pôr um ponto final na questão. Os investigadores têm-se dividido sobre os bocejos dos fetos: se uns já sugeriram que existem, outros dizem que não passam de um simples abrir da boca.
A equipa liderada por Nadja Reissland, do Departamento de Psicologia da Universidade de Durham, estudou 15 fetos – oito raparigas e sete rapazes –, com idades de gestação entre as 24 e as 36 semanas. No total, fizeram 58 ecografias, que permitiam obter gravações em vídeo dos fetos, os cientistas puderam distinguir entre um bocejo (56) e a mera abertura da boca (27) e confirmaram a existência deste movimento nas nossas vidas desde tão cedo.
No bocejo, considera-se que a boca se mantém aberta mais tempo no início do que na parte final. Além desta perspectiva dinâmica do bocejo, difícil de captar noutras ecografias bidimensionais, a sua definição ainda inclui a abertura dos maxilares, uma inspiração profunda, seguida de uma curta expiração, antes de a boca se fechar.
Nem contágio, nem sono
Sabe-se que o bocejo é contagioso e que, curiosamente, não é único dos seres humanos. Cães, gatos e até peixes bocejam. Mas só entre os seres humanos, os chimpanzés (a espécie mais próxima do homem) e os cães existe este efeito de contágio. Outro aspecto curioso é que o grau de contágio aumenta entre pessoas que têm um maior grau de familiaridade. Por que bocejamos é outra história, para a qual não existe explicação cabal, ainda que haja várias hipóteses, como a necessidade de levar mais oxigénio ao sangue, de aumentar o ritmo cardíaco para se ficar mais desperto ou até criar empatia nas relações sociais. Basta até falar ou ler sobre bocejos para começar a abrir a boca.
“Curiosamente, as crianças estão imunes à natureza contagiosa do bocejo até por volta dos cinco anos, daí quer a frequência quer o contexto social do bocejo, como o seu contágio, têm uma componente de desenvolvimento ainda inexplicável”, diz a equipa no artigo científico.
Como nos fetos o efeito de contágio não se coloca de todo, a equipa de Nadja Reissland pôs a hipótese de que neles seja um processo ligado ao desenvolvimento e, assim sendo, a frequência poderia mudar ao longo da gestação. Ora, no estudo verificou-se que havia realmente alterações na sua frequência.
“Ao contrário de nós, os fetos não bocejam nem por contágio, nem porque têm sono. Em vez disso, a frequência dos bocejos no útero pode estar ligada à maturação do cérebro durante a gestação”, diz a investigadora, num comunicado da sua universidade. “Tendo em conta que a frequência dos bocejos na nossa amostra de bebes saudáveis declinou entre as 28 e as 36 semanas de gestação, isto sugere que o bocejo e a simples abertura da boca têm esta função ligada à maturação na gestação.”
Ainda que continue sem se poder explicar a função do bocejo do bebé na barriga da mãe, se estiver ligado à maturação do sistema nervoso central, ele pode servir como um indicador que ajude a avaliar o estado de saúde e de desenvolvimento do feto.