Cidade de Goma, na RDC, ocupada por rebeldes com suspeitas de envolvimento do Ruanda

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O grupo de rebeldes do M23 foi criado em Abril e desde então tem estado em confrontos com o exército da RDC PHIL MOORE/AFP PHOTO

        A cidade Goma, na zona este da República Democrática do Congo e na fronteira com o Ruanda, foi invadida pelo grupo de rebeldes M23, depois de alguns dias de confronto com as tropas oficiais do Governo da República Democrática do Congo (RDC). O exército congolês desistiu de combater os rebeldes e abandonou a cidade de Goma. Segundo apurou a Reuters junto de fonte da ONU, após esta desistência, os capacetes azuis, integrados na missão de manutenção da paz das Nações Unidas na RDC, também pararam de ripostar contra a ofensiva do M23.

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        A cidade Goma, na zona este da República Democrática do Congo e na fronteira com o Ruanda, foi invadida pelo grupo de rebeldes M23, depois de alguns dias de confronto com as tropas oficiais do Governo da República Democrática do Congo (RDC). O exército congolês desistiu de combater os rebeldes e abandonou a cidade de Goma. Segundo apurou a Reuters junto de fonte da ONU, após esta desistência, os capacetes azuis, integrados na missão de manutenção da paz das Nações Unidas na RDC, também pararam de ripostar contra a ofensiva do M23.

O ministro dos negócios estrangeiros francês, Laurent Fabius, criticou a actuação da missão de paz da ONU, considerando-a como "absurda". "A missão de paz da ONU tem 17 mil soldados, mas infelizmente não estava em posição de prevenir o que aconteceu hoje", disse, de forma irónica, uma vez que estima-se que o exército do M23 conta apenas com algumas centenas de soldados.

O general dos rebeldes, Sultani Makenga, teve a oportunidade para passear ontem nas ruas de Goma juntamente com a sua entourage, sem que fosse avistado qualquer soldado do exército congolês.

Dezenas de milhares de pessoas já terão saído de Goma, onde vive um total de um milhão de pessoas. A associação Médicos Sem Fronteiras fez saber à AFP que as condições dos campos de refugiados são más, entre malnutrição e falta de água potável. Este conflito terá agravado ainda mais estas condições.

O Governo da RDC e a ONU já apontaram o dedo ao Ruanda, que acusa de estar na sombra desta ofensiva do M23.

A agência Reuters teve acesso a um relatório confidencial das Nações Unidas, em que é dito que os líderes dos rebeldes “recebem directamente ordens militares” das mais altas patentes militares do Ruanda, inclusive o ministro da defesa, o general James Kabarebe. Nesse relatório é também dito que o Governo ruandês forneceu armas de grande porte e tropas ao M23. 

O Governo ruandês tem rejeitado frequentemente estas acusações. Ontem, a ministra dos Negócios Estrangeiros ruandesa comunicou que “o que se passou em Goma demonstra claramente que a opção militar para chegar a uma solução desta crise fracassou, e que o diálogo político é a única maneira de resolver o conflito em curso”.

 

M23: mais um capítulo no conflito entre a RDC e o Congo

 

Este grupo de rebeldes vai buscar o nome ao dia 23 de Março de 2009 (data em que foi conseguido um acordo de paz entre o governo congolês e o Congresso Nacional pela Defesa do Povo), mas foi em Abril deste ano que foi formado. Desde essa altura o M23 tem estado em confrontos na província do Kivu do Norte, que faz fronteira com o Ruanda e cuja capital é Goma.

O grupo é encabeçado por Bosco Ntaganda, um ruandês da etnia Tutsi que é procurado pelo Tribunal Internacional de Justiça por recorrer a crianças soldado no seu exército.

As tensões entre os dois países perduram desde o fim do genocídio da tribo Tutsi por parte da tribo Hutu no Ruanda. Nessa altura, com a mudança de poder, milhares de Hutu refugiaram-se na República Democrática do Congo, e a partir de lá continuaram o conflito entre as duas tribos.