FARC anunciam cessar-fogo unilateral no início das negociações em Cuba

Negociadores do governo colombiano chegaram a Havana com um desafio para a guerrilha: “o momento serve para mostrar a força das ideias e não a força das balas”

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Equipa de negociação do Governo colombiano, antes de embarcar no avião para Havana John Vizcaino/REUTERS

 

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O representante das FARC no processo de negociação com o Governo colombiano, Ivan Marquez reagiu a estas palavras de Humberto de la Calle declarando um cessar-fogo unilateral durante os próximos dois meses, que serão de conversação. Marquez justificou esta tomada de posição como “um contributo para fortalecer o clima de compreensão necessário para que as duas partes que iniciam agora diálogo consigam chegar a uma solução desejada por todos os colombianos”. Estas foram as únicas declarações públicas da delegação das FARC na capital cubana, que se tem pautado pelo silêncio, conforme escreve o correspondente em Havana do jornal colombiano El Tiempo.

O cessar-fogo declarado pelas FARC, que durará até 20 de Janeiro do próximo ano, é um passo significativo na procura pela paz na Colômbia. Esta foi uma iniciativa isolada das FARC, tomada após Humberto de la Calle ter dito que durante as negociações com as guerrilhas “não haverá concessões de carácter militar, nem cessar de fogo, nem zonas desmilitarizadas”. Até à hora de fecho desta edição, o Governo colombiano não se tinha pronunciado acerca do cessar-fogo declarado pelos guerrilheiros.

A agenda de negociação terá cinco pontos, previamente acordados entre as duas partes. O primeiro tema será a reforma agrária e desenvolvimento rural. De seguida, o fim do conflito armado; o futuro das FARC enquanto oposição política num cenário de paz; tráfico de droga; e os direitos das vítimas do conflito que começou em 1964 e que já terá causado a morte a 600 mil pessoas.

Humberto de la Calle garantiu que o Governo colombiano não vai “negociar o modelo de desenvolvimento da Colombia, nem as políticas do Governo, tal como não vamos pedir às FARC que abandonem as suas ideias ou que as negoceiem”. “Não vamos alimentar discussões estéreis ou protagonismos desnecessários”, completou.

Segundo uma sondagem da agência Gallup lançada no final de Outubro, a maior parte dos colombianos olham para as negociações de paz de forma cautelosa. Se por um lado 72% apoiam a iniciativa de diálogo, uma maioria de 57% acredita que não se atingirá um acordo de paz.

Esta sondagem foi publicada logo após o discurso de Ivan Marquez, feito em Oslo. Marquez disse então que “a paz não significa o silêncio das armas, mas antes a transformação da estrutura do Estado e a mudança das formas políticas, económicas e militares”. “A paz não é a simples desmobilização”, concluiu, tornando óbvio que as FARC não vão querer abrir mão de uma mudança do paradigma político colombiano.

Este fim-de-semana, na Cimeira Ibero-Americana, que teve lugar este ano na cidade de Cádiz, em Espanha, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos disse que “há que silenciar as armas. É um condição muito necessária para alcançar a paz”. “Vamos tentar, temos a maior das vontades, sabemos quais são as linhas vermelhas onde estamos dispostos a ceder e onde não o faremos”, disse, esperançado em que “daqui a um ano haverá um acordo”.